[
Importante: o leitor poderá achar valiosa a discussão
a respeito deste artigo neste
link, do blog Obras Psicografadas. ]
http://home.earthlink.net/~dayvdanls/relativity.htm
http://www.str.com.br/Str/relatividade.htm
O título do artigo, original e traduzido, é:
The Relativity of Wrong
A Relatividade do Errado (por vezes aparece a tradução: A Relatividade do Erro)
Nota especial biográfica: Asimov, além de ser um dos mais importantes escritores de ficção científica e de divulgação da ciência do Século XX, era bioquímico. Eu jurava que ele era um físico, mas na verdade não era. Verifiquei isso na Wikipedia agora. Asimov faleceu com 72 anos de idade em 1992. |
"Defendendo" o pobre formando em literatura inglesa...:
Asimov monta sua exposição sobre o que é o "erro na
ciência", ou melhor, sobre o quanto a ciência está mais e mais CERTA e menos e menos ERRADA
ao longo dos séculos, tomando como partida (ou como bode expiatório)
uma crítica que ele recebeu através de uma carta de um formando
em literatura inglesa. Não temos na verdade como saber exatamente
qual foi a crítica a Asimov, e na verdade
não sabemos exatamente também o que de fato Asimov teria dito de
criticável aos olhos do formando em questão. Temos apenas o que Asimov
relata em seu artigo. Aparentemente o formando iniciou sua carta de
modo talvez arrogante. Já na primeira frase, segundo Asimov, o formando
alega a intenção de "ensinar ciência" a Asimov (farei as devidas citações
em inglês e em português):
In the first sentence, the writer told me he was
majoring in English literature, but felt he needed to teach me
science.
Na primeira frase, o escritor me disse que estava se formando em literatura Inglesa, mas que sentia que precisava me ensinar ciência. |
Asimov explicita melhor o conteúdo
factual do episódio nos seguintes termos (inglês // português):
It seemed that in one of my innumerable
essays, I had expressed a certain
gladness at living in a century in which we finally got the basis
of the universe straight. I didn't go into detail in the matter,
but what I meant was that...
|
[nota importante minha – Julio Siqueira – de correção de tradução: the basis é melhor traduzido como "as bases", e não como "o básico". Asimov não quis dizer que conhecemos o Universo em linhas gerais ou em um modo inicial/introdutório (o básico; o "basicão", na gíria...). Ele quis dizer que conhecemos as bases do que o Universo é e de como ele funciona. A diferença é astronômica; é meio como se o que não conhecemos fossem mais os detalhes, os pequenos ajustes]. |
Notem que o que Asimov fará é explicar o que ele quis dizer. Mas ele deixa claro que, no artigo que foi criticado pelo formando, ele (Asimov) "não entrou em detalhes"; consequentemente, o formando não estava de posse destes detalhes, e não pode ser condenado por não conhecê-los. Asimov continua mais à frente a expor o que o formando teria dito:
The young specialist in English Lit, having
quoted me, went on to lecture me severely on the fact that in
every century people have thought they understood the universe
at last, and in every century they were proved to be wrong. It follows
that the one thing we can say about our modern "knowledge" is that
it is wrong. |
Nota Importante
sobre a tradução, ou... Corrigindo a Minha Correção: Conforme
fui alertado pelo internauta Marciano no blog Obras Psicografadas,
o termo inglês "Lecture" pode, de fato, significar "dar bronca"
(neste
link). Verifiquei também que a expressão "the one", no contexto
usado acima, possui uma carga muito maior de sinonímia com "the only"
("a única") do que eu imaginava. Contudo, minhas impressões
com relação ao uso da expressão "the only" neste contexto acima talvez
ainda possua alguma validade. O fato é que com isso acabamos redimindo o pobre
Daniel Sottomaior...
. |
|
Asimov alfineta o pobre formando nos seguintes termos:
My answer to him was, "John, when people
thought the earth was flat, they were wrong. When people thought
the earth was spherical, they were wrong. But if you think that
thinking the earth is spherical is just as wrong as thinking the
earth is flat, then your view is wronger than both of them put together." Minha resposta a ele foi esta: "John, quando as pessoas pensavam que a Terra era plana, elas estavam erradas. Quando pensaram que a Terra era esférica, elas estavam erradas. Mas se você acha que pensar que a Terra é esférica é tão errado quanto pensar que a Terra é plana, então sua visão é mais errada do que as duas juntas". |
In short, my English Lit friend, living
in a mental world of absolute rights and wrongs, Em suma, meu amigo literado em inglês, viver
em um mundo mental de certos e errados absolutos,. |
Novamente: pelo que foi mostrado das afirmações do formando, não dá para rotulá-lo do jeito que Asimov faz... Bem no finalzinho, Asimov esculacha:
Naturally, the theories we now have might
be considered wrong in the simplistic sense of my English Lit
correspondent, Naturalmente, as teorias que temos hoje podem
ser consideradas erradas no sentido simplista do meu correspondente
bacharel em literatura inglesa,. |
De novo a falácia do strawman (espantalho). Conclusão: esse artigo de Asimov não é um texto de divulgação e ensino de ciência; é uma peça gratuita de bullying...!
Pois bem. Tendo tentado salvar da inquisição nosso desafortunado especialista em literatura da língua inglesa, temos agora que passar para o cerne do artigo. Digo, não o cerne neurótico-motivacional, já que este é o linchamento do pobre estudioso de literatura mesmo, mas sim o cerne teórico-informacional. Para tanto, precisamos conhecer as afirmações de Asimov que foram alvo das críticas, e, complementarmente, o que Asimov descreve como sendo a verdadeira caminhada da ciência através das veredas da verdade e da inverdade, e como Asimov usa dessa descrição para escapar das angustiantes garras do inquiridor estudioso da literatura inglesa.
Um
último comentário antes de fatiarmos Asimov (analisarmos; analisar
quer dizer fatiar...). Logo no início
do artigo, ele afirma:
In the first sentence, the writer told
me he was majoring in English literature, but felt he needed to teach me
science. (I sighed a bit, for I knew very few English Lit majors who are
equipped to teach me science, but I am very aware of the vast state of my
ignorance and I am prepared to learn as much as I can from anyone, so I
read on.). Na primeira frase, o escritor me disse que estava se formando em literatura Inglesa, mas que sentia que precisava me ensinar ciência. (Eu suspirei levemente, pois conhecia muito poucos bacharéis em literatura inglesa equipados para me ensinar ciência, mas sou perfeitamente ciente do meu estado de vasta ignorância e estou preparado para aprender tanto quanto possa de qualquer um, então continuei lendo.). |
Então, à luz dessas palavras proferidas (escritas) por Asimov imediatamente acima, gostaria de fornecer uma humilde palavra de cautela para cientistas descrentes quanto à possibilidade de bacharéis em literatura contribuírem com insights cruciais ao entendimento do que se constitui, em limites, potenciais, e características diversas, o caminhar científico, especialmente no que tange às teorias científicas: eu tive a oportunidade ímpar, o prazer imenso, e a boa ventura, de me aprofundar introdutoriamente no campo da literatura (no curso de professores do Ibeu na década de 80 do século passado, um curso de nível universitário muito respeitado na época) e de me aprofundar significativamente no campo da ciência também (bacharelado em biologia biomédica, com foco na microbiologia/bacteriologia; e mestrado com o mesmo foco; com posterior dedicação livre – mas intensa e sistemática – a um entendimento mais ampliado do que é a ciência, em características, potencialidades, e limitações, especialmente devido às pressões inerentes ao desenvolvimento do meu site Criticando Kardec). E, por mais incrível que possa parecer, eu sempre achei que minha passagem pela literatura foi muito mais crucial para o meu entendimento do processo científico do que minha passagem pela ciência propriamente dita. A literatura, e a análise literária, possuem uma faceta científica extremamente pronunciada, apesar de raramente citada ou reconhecida. É como se a literatura em si fosse uma verdadeira produção de teorias, e produção de modelos; e a análise literária se constituiria em uma reflexão a respeito de tais "teorias" e "modelos", com a vantagem (com relação ao que ocorre nos meios científicos) de que a literatura está livre de diversos grilhões que acorrentam o pensamento cientifico prático e real. Mas... isso é tese para outro artigo. Olhemos então Asimov mais minuciosamente.
Parênteses importante antes de prosseguirmos...: esse artigo de Asimov, ao que parece, teve uma de suas primeiras aparições em um livro de 1988, do próprio Asimov, contendo uma coletânea de artigos falando sobre ciência. O título deste artigo, no livro, era esse mesmo, The Relativity of Wrong; e deste título foi tirado o título do próprio livro: The Relativity of Wrong - Essays on Science. Pelo que consta na Wikipedia de língua inglesa, o artigo original era um pouco maior do que o que consta dos links da internet que eu indiquei no início deste artigo. O texto mais completo pode ser acessado no link abaixo: http://hermiene.net/essays-trans/relativity_of_wrong.html Creio que a versão um pouco reduzida foi editada para publicação na revista do Comitê para a Investigação Científica de Alegações de Paranormalidade (CSICOP - Committee for the Scientific Investigation of Claims of the Paranormal -, atualmente conhecida apenas por CSI), conforme pode ser deduzido do link abaixo: http://chem.tufts.edu/answersinscience/relativityofwrong.htm É indicada a citação: The Skeptical Inquirer, Fall 1989, Vol. 14, No. 1, Pp. 35-44. Em linhas gerais, pode-se dizer que os trechos retirados não alteram muito o artigo. Contudo, ao fim deste meu texto analítico, comentarei diferenças importantes entre as duas versões. |
Vou começar com um olhar mais detalhado sobre dois trechos de Asimov que me parecem deixar claro o que ele quer dizer ao contestar o estudante de literatura. Primeiro trecho abaixo (novamente, inglês e português):
It seemed that in one of my innumerable
essays, I had expressed a certain
gladness at living in a century in which we finally got the basis
of the universe straight. I didn't go into detail in the matter,
but what I meant was that we now know the basic rules governing the
universe, together with the gravitational interrelationships of its
gross components, as shown in the theory of relativity worked out
between 1905 and 1916. We also know the basic rules governing the subatomic
particles and their interrelationships, since these are very neatly
described by the quantum theory worked out between 1900 and 1930. What's
more, we have found that the galaxies and clusters of galaxies are the
basic units of the physical universe, as discovered between 1920 and
1930. These are all twentieth-century
discoveries, you see. Parece
que em um de meus inúmeros ensaios, eu expressei certa felicidade
em viver em um século em que finalmente entendemos o básico sobre
o universo (correção: em que finalmente
entendemos de modo correto os fundamentos do universo). Eu não entrei em detalhes, mas o que eu queria
dizer era que agora nós sabemos as regras básicas que governam o
universo, assim como as inter-relações gravitacionais de seus grandes
componentes, como mostrado na teoria da relatividade elaborada entre
1905 e 1916. Também conhecemos as regras básicas que governam as partículas
subatômicas e suas inter-relações, pois elas foram descritas muito
ordenadamente pela teoria quântica elaborada entre 1900 e 1930. E mais,
nós descobrimos que as galáxias e os aglomerados de galáxias são as
unidades básicas do universo físico, como descoberto entre 1920 e 1930.
Veja, essas são todas descobertas do
século vinte.
|
Um pouco mais avante, vemos
esse segundo trecho, que é um adendo crucial:
My answer to him was, "John, when people
thought the earth was flat, they were wrong. When people thought
the earth was spherical, they were wrong. But if you think that
thinking the earth is spherical is just as wrong as thinking the
earth is flat, then your view is wronger than both of them put together."
The basic trouble, you see, is that people think that "right" and
"wrong" are absolute; that everything that isn't perfectly and completely
right is totally and equally wrong. However, I don't think that's so. Minha resposta
a ele foi esta: "John, quando as pessoas pensavam que a Terra era plana,
elas estavam erradas. Quando pensaram que a Terra era esférica, elas estavam
erradas. Mas se você acha que pensar que a Terra é esférica é tão errado
quanto pensar que a Terra é plana, então sua visão é mais errada do que as
duas juntas". O problema básico é que as pessoas pensam que "certo" e "errado"
são absolutos; que tudo que não é perfeitamente e completamente certo é totalmente
e igualmente errado. Entretanto, eu penso que não é assim.
|
E, a propósito..., quem diabos é John? (Asimov afirma: "John, quando as pessoas pensavam que a Terra era plana,"...). O texto que não está completo nos leva a achar que Asimov está se referindo ao estudioso de literatura. Contudo, há um trecho logo antes (na versão completa) onde Asimov afirma que o mesmo questionamento feito a ele pelo estudante de literatura costumava ser feito por uma pessoa de suas relações vinte cinco anos antes, John Campbell, cuja especialidade era "irritar a mim" (segundo palavras de Asimov). Continuando então.
Asimov, a seguir, se extende bastante no exemplo do formato do nosso planeta Terra (lembremos que esse exemplo não foi trazido pelo estudioso de literatura, e sim por Asimov). E ele mostra a marcha Ordenada e Progressiva (Ordem e Progresso; Senhor, Sim Senhor! ) da Ciência no conhecimento de qual exatamente é o formato da Terra. Primeiro, achávamos que ela era chata, plana. Segundo, passamos a achar que ela era esférica. Terceiro, passamos a achar que ela era um "oblate spheroid" (esferoide oblato). E atualmente achamos que ela é quase um, digamos, peroide... (formato que possui similaridades marcantes com o de uma pera; a fruta pera). E por fim chegamos a uma bela descrição de Asimov de como ele vê todo esse cenário, descrito pela pérola abaixo... (talvez fosse melhor dizer, pela pera abaixo!)
In short, my English Lit friend, living
in a mental world of absolute rights and wrongs, may be imagining
that because all theories are wrong, the earth may be thought
spherical now, but cubical next century, and a hollow icosahedron
the next, and a doughnut shape the one after. What actually happens
is that once scientists get hold of a good concept they gradually
refine and extend it with greater and greater subtlety as their instruments
of measurement improve. Theories
are not so much wrong as incomplete. Em suma,
meu amigo literado em inglês (correção: estudante de literatura
inglesa), vivendo em um mundo mental de certos e errados absolutos,
pode significar imaginar que uma vez que todas as teorias são erradas,
podemos pensar que a Terra seja esférica hoje, cúbica no século
seguinte, um icosaedro oco no seguinte, e com formato de rosquinha
no seguinte. O que acontece na verdade é que uma vez os cientistas
tomam um bom conceito, eles o refinam gradualmente e o estendem com
sutileza crescente à medida que seus instrumentos de medida melhoram.
As teorias não são tão erradas quanto incompletas.
|
Asimov, então, vê (ou pensa
que vê...; ou afirma que vê,
independente de pensar assim de fato ou não...) o caminho
científico basicamente como um caminho progressivo e praticamente
sem retrocessos em direção à Verdade! Vejamos
então um gráfico ilustrando o que Asimov crê ser o Caminhar da Ciência...
Sim, a impressão que eu fico, ao ler o artigo de Asimov, é que a visão dele
é bastante próxima do que eu descrevi neste gráfico acima. Vamos
então dar uma olhada no que pode haver de errado, ou melhor, no
que pode haver de ruim, nesta maneira de Asimov ver e divulgar
a Ciência. Mas antes, ressalto abaixo os termos usados por Asimov ao descrever
como se dá o caminho da ciência:
Even when a new theory seems
to represent a revolution, it usually arises out of small refinements.
If something more than a small refinement were needed, then the old theory
would never have endured.
Mesmo quando uma nova teoria parece representar uma revolução, ela geralmente surge de pequenos refinamentos. Se algo mais do que um pequeno refinamento fosse necessário, então a teoria anterior não teria resistido. |
Então
essa é a noção básica na mente de Asimov ao ele descrever o caminho da
ciência: Pequenos Ajustes !!! Senão,
vejamos...
Contestando a Visão de Asimov sobre como Caminha a Ciência:
Há quatro questões
principais embutidas no artigo de Asimov que são: Primeiro,
existe a Verdade? Segundo, é possível atingirmos a Verdade
(na prática ou também, alternativamente, em princípio)? Terceiro,
como caminha a Ciência ao tentar atingir a Verdade? E Quarto,
em que ponto está a Ciência atualmente (ou, no caso de Asimov, na época
em que ele escreveu seu artigo), em seu rumo à Verdade?
A melhor maneira
de iniciarmos uma ponderação sobre
essas quatro questões, à luz das "lúcidas" reflexões de Asimov em
seu artigo, é vermos como Asimov descreve o que devemos esperar
das conclusões (ou seja, teorias) científicas. Ele afirma: "Em resumo, meu amigo formando em literatura inglesa...
...pode achar que, já que todas as teorias são erradas, a Terra pode
ser entendida como esférica agora, mas cúbica no século seguinte,
e icosaédrica-oca no próximo, e em formato de rosquinha no seguinte.".
Asimov parece crer que a Ciência
não incorreria em um caminho tão aparentemente disparatado quanto o
descrito por ele na frase anterior. Contudo, por mais incrível que possa
parecer, a situação é na verdade muito "pior" do que Asimov descreveu.
E quando eu digo muito "pior", eu quero dizer muito, muito, muito mesmo!
Vejamos então, assim como fez Asimov, como vem se desenvolvendo a visão
da Ciência a respeito da Forma da Terra:
Evolução da Visão da "Ciência" a Respeito da Forma
do Planeta Terra:
1- Num momento mais
inicial onde poderíamos rotular de científicas as visões do homem
a respeito da forma da Terra, concluiu-se, como cita Asimov, que
a Terra era, digamos, chata (essa visão deve ter sido presente entre
os anos 3.000 a.c. e 300 a.c.). Não chegava, obviamente, a ser um círculo
com apenas duas dimensões. Mas era bem chatinha. A figura abaixo ilustra
tal visão:
Icosaedro e suas 20 faces iguais |
Rosquinhas do tipo Dough Nut americanas,
deliciosas
e cientificamente consistentes |
Cubo, com três dimensões.
|
Tesserato, com quatro dimensões.
|
Podemos ver que a esfera deixa um rastro, uma marca, no plano 2d. Essa marca é crescente, iniciando-se com um ponto e expandindo-se em um círculo crescente. Podemos representar isso pela figura dinâmica abaixo:
hypersphere 1 Stereographic projection of the "spherical parallels" of an hypersphere. https://www.youtube.com/watch?v=-GMC3UnA7eg |
hypersphere 2 Stereographic projection of the "toroidal parallels" of a hypersphere. https://www.youtube.com/watch?v=QlcSlTmc0Ts |
Meu Deus! Queria
eu que a Terra fosse uma simples rosquinha icosaédrica oca!!!
[A propósito: repararam que, na imagem dinâmica Hypersphere 2, existem
alguns curiosos "momentos rosquinha"... Talvez Asimov estivesse "certo"
em seus temores afinal!
]
http://bigthink.com/videos/the-multiverse-has-11-dimensions-2
http://io9.com/5818008/the-universe-probably-isnt-a-giant-hologram-after-all
http://www.preposterousuniverse.com/blog/2013/01/17/the-most-embarrassing-graph-in-modern-physics/
Uma
maneira de visualizarmos o "formato do Planeta Terra" neste cenário
seria imagem abaixo:
Rosquinhas Nos Acudam !!!
Caminho Alternativo 1 |
Caminho Alternativo 2 |
Caminho Alternativo 3 |
O filósofo da ciência Thomas Kuhn, no livro A Estrutura
das Revoluções Científicas, afirma (no Posfácio de 1969, item
6, Revoluções e Relativismo): "Não
tenho dúvidas, por exemplo, de que a mecânica de Newton aperfeiçoou
a de Aristóteles e de que a Mecânica de Einstein aperfeiçoou a de
Newton enquanto instrumento para a resolução de quebra-cabeças.
Mas não percebo, nessa sucessão, uma direção coerente de desenvolvimento
ontológico. Ao contrário: em alguns aspectos importantes, embora
de maneira alguma em todos, a Teoria Geral da Relatividade de Einstein
está mais próxima da teoria de Aristóteles do que qualquer uma
das duas está da de Newton.". Por "desenvolvimento ontológico",
Kuhn quer dizer: o caminho rumo à VERDADE.
Mais Exemplos de "Caminhos Sinuosos" da Ciência
(idas e vindas e/ou mudanças através de "drásticos ajustes"):
Evolução das
Ideias a Respeito de Onde Fica o Centro do Universo |
Terra (geocentrismo)
-> Sol (heliocentrismo) -> Todo Lugar ("omnicentrismo")
-> Nenhum Lugar ("acentrismo") |
Parêntese Importante: o Sistema Heliocêntrico
de Copérnico não era Melhor que o Sistema Geocêntrico de Sua Época
Thomas Kuhn afirma, em seu livro A Estrutura
das Revoluções Científicas, capítulo 6 - As Crises e as Emergências
das Teorias Científicas (penúltimo parágrafo do capítulo): "Mesmo a versão mais elaborada de Copérnico não era nem mais
simples nem mais acurada do que o sistema de Ptolomeu. As observações
disponíeis, que serviam de testes, não forneciam, como veremos adiante,
base suficiente para uma escolha entre essas teorias.".
E posteriormente no capítulo 11- A Resolução
de Revoluções: "Até Kepler, a teoria
copernicana praticamente não aperfeiçoou as predições sobre as proposições
planetárias feitas por Ptolomeu.".
Igualmente, é citado por fontes na internet (Wikipedia)
que o sistema de Copérnico possuía, em profusão, os famigerados epiciclos
do sistema ptolomaico
http://en.wikipedia.org/wiki/Deferent_and_epicycle |
Abaixo, galáxias sob os olhos de Asimov. |
Abaixo, galáxias sob os olhos atuais! |
Abaixo, o modelo galático nodular, isolacionista, tedioso, e sem graça de Asimov. |
Abaixo, o modelo galático atual, espongiforme e muito mais animado ! |
O desenrolar da nossa visão a respeito da estrutura em larga escala
do Universo não apresenta uma caminho sinuoso tão óbvio como alguns outros
exemplos de ideias na Ciência, onde por vezes percebemos um nítido vai-e-vem
de ideias recorrentes. Contudo, há um aspecto bem interessante neste
desenvolvimento, que é a descoberta (ou a postulação...) de uma matéria
escondida em meio à matéria ordinária que conhecíamos até então, e da
ordem de 5 para 1 (cinco quantidades de matéria oculta para cada quantidade
de matéria ordinária). Cabe frisar que se de fato a totalidade do Universo
incluir múltiplos universos, e múltiplas dimensões (e "múltiplos mundos"
- Everett's Many Worlds Interpretation),
então o cenário acima mudaria consideravelmente. Mas talvez o cenário
acima consiga se manter durante talvez uns 50 anos pelo menos...
Exemplo 3:
A Constante Cosmológica de Einstein. Talvez o exemplo mais
curioso de sinuosidade no caminho da Ciência vem dos trabalhos do próprio
Einstein. Em 1916, surgia a Teoria da Relatividade Geral, de Einstein.
Surgia SEM a Constante Universal. No ano seguinte, Einstein já
havia incorporado a essa teoria a noção de uma Constante Universal, e
a teoria passava então a vigorar COM a Constante Universal. Em 1929,
novamente a Teoria da Relatividade Geral voltou a ficar SEM a Constante
Universal. E, finalmente (por enquanto...), em 1998, as teorias pertinentes
voltaram a ficar COM a Constante Universal. Vejamos então abaixo
a posição da Ciência quanto à Constante Universal, diretamente ligada à
Teoria Geral da Relatividade:
Posição
da Ciência quanto à Constante Universal
|
1916 |
1917 |
1929 |
1998 |
NÃO | SIM
|
NÃO | SIM
|
Exemplo 4: Natureza do Tempo. Descrevendo de
uma maneira bem simplista, podemos dizer que o tempo, até a época da
mecânica newtoniana, era visto de um modo bem "normal". O tempo fluía
para frente (no sentido passado -> presente -> futuro; nunca ao
contrário disso), de modo (velocidade) inalterado (nada de fast forward
- avanço rápido para frente - ou slow motion - avanço em câmara
lenta. Apenas um fluir uniforme). Além disso, o tempo era o mesmo para todo
mundo, não importando se você está aqui, ou no Japão, ou próximo ao centro
da Terra, ou em uma estação espacial, ou parado em relação mim, ou viajando
a uma velocidade de 99,999999 % da velocidade da luz em relação a mim,
etc. Igualmente, acontecimentos simultâneos eram acontecimentos simultâneos.
O carro azul vindo pela via norte-sul (sentido sul) cruzou o carro vermelho
vindo pela via leste-oeste (sentido leste) no exato momento em que o relógio
marcava 12:00hs do dia dez de Janeiro, e tudo isso coincidia com um bofetão
que Maria dava na cara de João por ele ter enganado ela, sendo que João
e Maria na verdade estavam não no planeta Terra, mas em um planeta na galáxia
de Andrômeda, a uns 2 milhões de anos luz da Terra; tudo isso coincidindo,
em perfeita simultaneidade. A partir de Einstein (1905-1930), tudo isso
mudou. Se você viaja a uma velocidade muito próxima da velocidade da luz
com relação a mim, então o tempo para você passa muito mais devagar do que
para mim. Aqui na Terra podem ter passado milhões de anos, enquanto para você
em sua espaçonave super rápida somente alguns anos se passaram. Igualmente,
o que é simultâneo para o motorista do carro azul (que eu citei acima) não
é simultâneo para o motorista do carro vermelho. Enquanto para o motorista
do carro azul são simultâneos os acontecimentos
cruzar o carro vermelho e bofetão em Andrômeda, para o motorista do
carro vermelho na verdade no momento
em que ele cruzou com o carro azul
João e Maria ainda nem haviam decidido iniciar
o namoro (uns dez dias antes do bofetão). Pior, há a possibilidade
de que o tempo flua no sentido do futuro para o passado, ou que talvez,
em um certo sendido (ou em um conjunto de sentidos diferentes), nem mesmo
sequer exista tempo. Em um artigo publicado na Scientific American em setembro
de 2002, o físico Paul Davis, ao comentar sobre um físico de um século antes
(ano 1902), John McTaggart, afirma: "Mc Taggart usou
esse confronto entre as séries A e B para defender a irrealidade do tempo
em si, o que talvez seja uma conclusão relativamente drástica. A maioria
dos físicos colocaria isso em termos menos dramáticos: o fluxo do tempo é
irreal, mas o tempo em si é tão real quanto o espaço.". [Paul Davies.
That Mysterious Flow. Scientific American. September 2002].
Exemplo 5: a Velocidade da Luz. Novamente
descrevendo de modo relativamente simplista, mas..., podemos dizer que
até Newton acreditava-se que a velocidade da luz fosse infinita. Einstein
estabeleceu a Lei de Tolerância Zero no Trânsito Cosmológico.
Velocidade máxima: 300.000 Km/s no vácuo. E só a luz (fótons) pode viajar
nesta velocidade. Então, de infinito para 300.000 Km/s.
Uma redução literalmente... INFINITA! Asimov descreve essa alteração
infinita como um "pequeno ajuste".
Exemplo 6: Variação na "Precisão" de Teorias Subsequentes:
esse é um ponto um tanto quanto "exato", então é mais fácil avaliá-lo
em ciências mais "exatas", como a física. Na verdade, creio que só dá para
checar isso na física mesmo, e ainda assim com reservas. Asimov fez isso,
de certo modo, ao avaliar a precisão das diversas visões a respeito do
formato do planeta Terra no artigo dele. No livro A Mente Nova do Rei, o
prestigiado físico e matemático Roger Penrose diz (na página 169) que a
precisão da Mecânica Clássica Newtoniana é de uma parte em 107.
Já a Teoria Geral da Relatividade possui uma precisão de uma parte em
1014.
Mais recentemente, como aparece neste
link, a precisão verificada da Teoria Geral da Relatividade subiu
para 1016!
Para mim, descrever como Pequeno Ajuste
a passagem de uma precisão de uma parte em 107
para uma parte em 1016
é uma Grande Tolice...
Em alguns pontos, Asimov parece ter cometido erros científicos, factuais,
ou interpretativos em seu artigo. Esses pontos só aparecem na versão completa
do artigo (neste link),
e não na versão editada que é mais conhecida (neste
link). Vou citar os pontos abaixo:
1- Asimov afirma:
Newton's theories of motion
and gravitation were very close to right, and they would have been absolutely
right if only the speed of light were infinite.
As teorias de Newton sobre
o movimento e a gravidade estavam muito próximas do correto, e elas estariam
completamente corretas se a velocidade da luz fosse infinita.
|
Meu questionamento
a esse ponto acima é se de fato as teorias de Newton passariam a ser exatas
se a velocidade da luz fosse infinita. Me parece uma afirmação estranha.
Mas, só posso ressaltar esse ponto.
2- Asimov afirma:
Newton's theory of gravitation,
while incomplete over vast distances and enormous speeds, is perfectly
suitable for the Solar System. Halley's Comet appears punctually as Newton's
theory of gravitation and laws of motion predict. All of rocketry is based
on Newton, and Voyager II reached Uranus within a second of the predicted
time.
A teoria da gravitação de
Newton, ainda que incompleta se aplicada a vastas distâncias e enormes
velocidades, é perfeitamente adequada para o Sistema Solar. O cometa de
Halley aparece pontualmente do modo previsto pela teoria da gravitação
e pelas leis de movimento. Toda a indústria de foguetes está baseada em
Newton, e a Voyager II atingiu Urano com menos de um segundo de erro com
relação ao tempo previsto.
|
Existe pelo menos
um fenômeno a nível de Sistema Solar que viola claramente as Leis de Newton,
que é a Precessão do Periélio de Mercúrio (descrição suscinta
mas bem completa neste
link). Um outro fenômeno que pode também ser descrito como se dando
"a nível de Sistema Solar" e que não é explicável por Newton é o próprio
fato do Sol "queimar" (ou seja, realizar a fusão nuclear em seu interior,
gerando luz e calor, além de também gerar "outras coisas"). Esse fato, curiosamente,
só é explicável pela Mecânica Quântica.
3- Asimov afirma:
(...)quantum theory has
produced something called "quantum weirdness" which brings into serious question
the very nature of reality and which produces philosophical conundrums that
physicists simply can't seem to agree upon. It may be that we have reached
a point where the human brain can no longer grasp matters, or it may be that
quantum theory is incomplete and that once it is properly extended, all the
"weirdness" will disappear.
(...)a teoria quântica produziu
algo chamado "estranheza quântica" que traz sérios questionamentos a respeito
da própria natureza da realidade e que produz desafios filosóficos sobre
os quais os físicos simplesmente não parecem conseguir chegar a um acordo.
Pode ser que tenhamos chegado a um ponto no qual o cérebro humano não conseguirá
mais dar conta dessas questões, ou talvez seja a teoria quântica que seja
incompleta e uma vez que ela seja adequadamente extendida toda a "estranheza"
desaparecerá.
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Esse ponto acima
é deveras interessante, e é o único onde Asimov levanta uma questão de
enorme interesse para o assunto do artigo dele: até que ponto nosso
cérebro pode dar conta da realidade? O fato de eu incluir esse
trecho acima como "possivelmente errado" se deve ao fato de Asimov na verdade
não ter demonstrado a capacidade de seguir a força do argumento acima até
onde ele de fato nos leva, que é justamente a discussão de se existe
uma VERDADE externa, se essa VERDADE é atingível em princípio, e
se essa VERDADE é atingível na prática. No trecho acima,
Asimov aventa a possibilidade da VERDADE não ser atingível na prática,
pelo menos até que nossos cérebros mudem (melhorem).
4- Asimov afirma:
Again, quantum theory and
relativity seem to be independent of each other, so that while quantum
theory makes it seem possible that three of the four known interactions
can be combined into one mathematical system, gravitation—the realm of relativity—as
yet seems intransigent. If quantum theory and relativity can be combined,
a true "unified field theory" may become possible. If all this is done,
however, it would be a still finer refinement that would affect the edges
of the known—the nature of the big bang and the creation of the Universe,
the properties at the center of black holes, some subtle points about the
evolution of galaxies and supernovas, and so on. Virtually all that we know
today, however, would remain untouched and when I say I am glad that I live
in a century when the Universe is essentially understood, I think I am justified.
De novo, a Teoria Quântica
e a Relatividade parecem ser independentes entre si, no sentido em que
enquanto a Teoria Quântica faz parecer possível que três das quatro interações
conhecidas (eletromagnetismo, força nuclear
forte, e força nuclear fraca) possam ser combinadas em um sistema
matemático, a gravitação - que se situa no âmbito da Relatividade - até
agora parece intratável (ou seja, não incorporável
pela Teoria Quântica). Se a Teoria Quântica e a Relatividade puderem
ser combinadas, uma verdadeira "Teoria Unificada de Campo" pode se tornar
possível. Se tudo isso for feito, contudo, isso seria apenas mais um refinamento
mais apurado que afetaria as fronteiras do conhecido - a natureza do Big
Bang e a criação do Universo, as propriedades no centro de buracos negros,
alguns pontos sutis a respeito da evolução das galáxias e supernovas, e
por aí vai. Virtualmente tudo que conhecemos hoje, contudo, permaneceria
intocado e quando eu digo que me sinto feliz por viver em um século no qual
o Universo é essencialmente entendido, penso estar justificado.
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Basicamente, Asimov demonstra acima uma cabal ignorância a respeito
das implicações do Conhecimento Científico Avançado na interpretação
dos Fatos Cotidianos., quando ele afirma que "Virtualmente tudo que conhecemos hoje, contudo, permaneceria
intocado". O que de fato ocorre é que, independente desses
avanços na ciência, podemos continuar apostando corridas a pé com nossos
colegas por extensões de 50 metros sem nos importarmos com nada disso, assim
como podemos continuar cozinhando, brigando, fofocando, etc. Todas essas
atividades são suficientemente iguais independente se as olharmos pelos olhos
da física de Aristóteles da física de Newton ou de Einstein ou da Mecânica
Quântica. Mas isso não torna virtualmente tudo que conhecemos hoje intocável
(ou intocado) pelas mudanças introduzidas por essas teorias. Pelo contrário,
isso mostra o quanto nossa percepção senso comum da realidade
é falha (ainda que válida para quase todos os propósitos práticos).
Conclusão Final: Onde Está a VERDADE ?
O artigo de Asimov que tento analisar nesta página me parece extensamente
errado. Asimov alega acreditar que entendemos os fundamentos
do Universo - através das teorias da Relatividade
e Mecânica Quântica - que conhecemos
a estrutura do Universo como sendo os nódulos galáticos
(e seus aglomerados), e que o caminho da Ciência se dá através de pequenos ajustes nas teorias precedentes.
Contudo, pouco tempo após ele escrever seu artigo, a visão galática nodular
ruiu, e as tentativas de transcender a dobradinha inconciliável Relatividade-MecânicaQuântica continua
se dando através de esforços que parecem longe dos "pequenos ajustes" nos
quais Asimov alega acreditar. Volto então a frisar um ponto que ressaltei
acima: Há quatro questões
principais embutidas no artigo de Asimov que são: Primeiro,
existe a Verdade? Segundo, é possível atingirmos a Verdade
(na prática ou também, alternativamente, em princípio)? Terceiro,
como caminha a Ciência ao tentar atingir a Verdade? E Quarto,
em que ponto está a Ciência atualmente (ou, no caso de Asimov, na época
em que ele escreveu seu artigo), em seu rumo à Verdade?. Asimov poderia ter feito um esplêndido
texto se de fato abordasse essas questões. Contudo, ele se limitou a escorregar
por um caminho na verdade ideológico, onde ele tenta vender a ideia de
que a Ciência é "bonita e gostosa". Penso que o que motiva pessoas como
Asimov a incorrer neste gravíssimo erro é o fato da Ciência ser frequentemente
contestada de modo maldoso por parte principalmente de grupos "religiosos".
A lógica é mais ou menos essa: se as teorias científicas estão erradas,
então vamos ensinar nas escolas (nas aulas de Ciência !!!) não apenas o
Big Bang mas também o Criacionismo Bíblico que diz que o Universo tem pouco
mais de 4000 anos de idade. Mas um erro não justifica o outro, e, neste caso,
ambos estão Absolutamente Errados !
Incluo no link abaixo
a versão completa, em inglês, do artigo de Asimov, ressaltando em vermelho
os trechos que foram retirados na versão mais conhecida. A intenção das
remoções de trechos pareceu ser: melhoria estilística; retirada de erros
científicos; ocultação de trechos arrogantes de Asimov; e apresentação de
uma obra mais, digamos, "exata-quantitativa", retirando-se exemplos mais
"nebulosos-qualitativos".