Jornada
Analítica Caminhando por “Que Bobagem!” de Natália Pasternak e Carlos Orsi.
Apresentação
simultânea nos grupos de WhatsApp
e Telegram, respectivamente, do ECAE (Estudos
Científicos Avançados sobre Espiritismo, criado pelo pesquisador Vitor Moura)
e do IPA+ (Instituto Ponto Azul, criado pelo psicólogo Daniel Gontijo).
A partir do dia 1 de agosto de 2023, terça feira, 20:00hs, ao longo de um mês.
Livro Que
Bobagem!,
de Natália Pasternak e Carlos Orsi: Um Tema Precioso. Uma Abordagem Desastrosa.
É uma tristeza
muito grande ver Natália Pasternak se permitindo criar e publicar uma obra
tão ruim em uma temática tão séria. Há, já, muitas críticas a esse livro
circulando (a maioria quanto ao capítulo sobre Psicanálise), o que inclui
pelo menos algumas críticas bem fundamentadas e merecedoras de atenta consideração.
Uma que me chamou a atenção em especial foi a
exposta no artigo intitulado “Que bobagem é o negacionismo
de evidências científicas abundantes sobre psicanálise e psicoterapias psicodinâmicas!”,
de autoria do psicanalista Rogério Lerner, 24
de julho de 2023, blog de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise
de São Paulo, link (url) abaixo:
https://www.sbpsp.org.br/blog/que-bobagem-e-o-negacionismo-de-evidencias-cientificas/
De minha
parte, tendo lido as partes do livro (versão Kindle
da Amazon) que eu considerei pertinentes para
minhas áreas de interesse e de conhecimento, comentarei, o mais brevemente
possível, os pontos que me parecem importantes ressaltar. Pasternak e Orsi resolveram falar de uma quantidade bem grande
de assuntos altamente díspares. 12 assuntos. Desses assuntos, li com atenção,
além da Introdução, os capítulos sobre Homeopatia, Psicanálise, e Paranormalidade. Li com menor atenção (ou com menor
tensão) os capítulos sobre Curas Energéticas e também Poder Quântico e Pensamento
Positivo. E finalmente, li o Epílogo que adiciona, ainda, alguns dissabores
ao leitor sequioso de leitura informativamente honesta.
O livro
começa com o capítulo de Introdução, a meu ver de muito boa qualidade.
Fica claro, pelo seu conteúdo, que quaisquer erros ou falhas que por ventura
apareçam nos capítulos subseqüentes, não terão sido fruto de imperícia dos
autores, mas sim de negligência. E negligência provavelmente dolosa.
Na verdade,
se o livro tivesse se mantido no mesmo nível de rigor científico e de qualidade
que vemos na introdução, teria se constituído em obra de alta excelência.
Ainda assim, escolhi alguns trechos da introdução para comentar, mais com
o objetivo de fornecer um acréscimo reflexivo do que com o intuito de corrigir
ou mostrar necessariamente falhas. Iniciando então com os trechos selecionados
da introdução:
“A mente
humana é um instrumento maravilhoso, mas está longe de ser perfeita. É por
isso que precisamos dos métodos, processos e da atitude da ciência: para
filtrar nossa percepção do mundo e eliminar (na medida do possível) os erros
provocados por nossas deficiências e falhas cognitivas. Essas deficiências
e falhas costumam ser classificadas em três grupos: heurísticas, falácias
e vieses”. (páginas 11 e 12)
Pessoalmente,
acho que o pensamento científico é muito mais fortemente inerente à mente
do ser humano (e de modo amplamente ubíquo) do que dá a parecer por esse
trecho acima. A meu ver até animais, de diversas espécies, se utilizam de
estratégias que seguem as linhas do que consideramos pensamento científico.
Mas, claro, eu precisaria de alguns parágrafos para expor essa visão heterodoxa
minha. Apenas reconheço e expresso aqui e agora, à
guisa de apresentação inicial e de tributo às origens de meu pensamento nessa
questão, que essa minha “visão expandida” a respeito da origem e prática
do pensamento científico vem, inicialmente, de dois pontos bem enriquecedores:
primeiro, o capítulo sobre os filósofos pré socráticos do livro Cosmos, de
Carl Sagan, onde ele ressalta a possibilidade de que a riqueza do pensamento
filosófico (e científico) de tais pensadores de então se deveu, em grande
parte, à proximidade entre a “mente” (o pensamento) e a “mão” (as práticas
físicas e o trabalho manual nas mais diversas formas) naquelas várias, e
variadas, sociedades insulares; segundo, o capítulo sobre os povos bosquímanos
africanos, em especial o povo Sã (Saan), do livro
O Mundo Assombrado pelos Demônios, também de Carl Sagan, onde ele discorre
brevemente sobre as práticas e estratégias de caçada de tais povos, e da
enorme e intrincada inteligência envolvida em todo o processo.
“Mais do
que um comportamento, Pavlov havia condicionado uma resposta fisiológica
nos cães. (...) Condicionamento clássico é um dos segredos por trás do efeito
placebo. (...) Existe um mecanismo bioquímico para o efeito placebo. Não
é algo que fica ‘só na cabeça’. Isso mostra que o placebo tem base bioquímica.
(...) placebo não é apenas ilusão.”. (páginas 17 a 19)
As informações
apresentadas pelos autores a respeito do Efeito Placebo são muito enriquecedoras.
Mas, cabe ressaltar, TUDO no corpo humano, a princípio, tem base bioquímica.
É isso que o corpo humano é, em seu funcionamento.
Então, a rigor, as ênfases dadas a isso pelos autores nos trechos acima
incorrem em certo vício tautológico. Até ilusões têm base bioquímica.
“E, finalmente,
o mais importante: sempre podemos nos beneficiar do efeito placebo em qualquer
consulta médica ou tratamento, se o médico ou profissional de saúde for
atencioso e carinhoso. Talvez esta seja a única grande lição que a medicina
alternativa tem mesmo a ensinar”. (página 22)
Esse trecho
acima mostra bem uma perspectiva e abordagem verdadeiramente humanista por
parte dos autores que, infelizmente, não foi muito bem desenvolvida posteriormente
no livro. Uma perda...
“É por
reconhecer a influência dessas fontes de erro que a atitude científica abraça
o princípio de que “o plural de caso isolado não é informação válida”. (página
22)
Temos que
tomar sempre um certo cuidado com esses “princípios”...
A rigor, até um caso isolado pode ser informação válida. E o plural de caso
isolado tem sim uma tendência de ser um acréscimo na força e validade da
informação. A realidade para qual esse princípio citado pelos autores alerta
é a probabilidade verdadeira, perigosa, e insidiosa, de, paradoxalmente,
o acréscimo de qualidade na informação não se dar necessariamente do modo
esperado ao aumentarem-se os casos observados. Daí a necessidade dos rigores
científicos desenvolvidos para fins de análise de tais situações.
“Nem todas
as 12 bobagens que destrinchamos nas páginas a seguir têm conexão direta
com promessas de cura e saúde”. (página 28)
Infelizmente
chega a ser uma alucinação megalomaníaca de Pasternak e Orsi usarem do termo “destrinchamos”
para se referirem a como abordaram os 12 assuntos do livro. Os capítulos
sobre temas que tenho um certo conhecimento, Psicanálise,
Parapsicologia, e Poder Quântico, foram tratados de modo, na melhor das
hipóteses, desleixado. Na verdade, lamentavelmente, bem pior do que isso.
Além do injustificável desrespeito e arrogância do título do livro, a inclusão
da Paranormalidade e, ainda mais, da Psicanálise
nesse grupo de assuntos (em especial do modo que esta última foi abordada)
parece indicar boa dose de desinformação culposa e significativa dose de
desonestidade intelectual dolosa. Como resultado (para mim, e com certeza
para muitas outras pessoas), não julguei proveitoso
ler os demais capítulos, já que Pasternak e Orsi
não se mostraram como fontes confiáveis.
CAPÍTULO
SOBRE HOMEOPATIA
Homeopatia
deveria ser uma espécie de “cachorro morto” dentre as pseudociências, seguindo
a lógica da expressão popular “não se chuta cachorro morto”. Os medicamentos
homeopáticos não têm simplesmente nada, nenhuma substância (princípio ativo)
neles. Se o tratamento homeopático em si funciona, e quando funciona, deveria
ser somente pelo efeito placebo, bem explicado por Pasternak e Orsi no capítulo de introdução. E apesar de eu ter
tomado mais pleno conhecimento disso um tanto quanto tardiamente no meu
percurso de estudioso da Ciência, tal fato já é por mim bem conhecido, e
aceito, desde 2004, como expus na época no texto do link abaixo:
https://www.criticandokardec.com.br/homeopatia_ano_2004.pdf
Nesse contexto,
chega a ser surpreendente que Pasternak e Orsi
tenham conseguido produzir um capítulo sobre esse assunto que, ainda assim,
mereça alguns comentários “críticos”, no sentido de comentários condenatórios...
Comentarei então alguns trechos do capítulo, incluindo alguns trechos que
definitivamente não devem ser criticados (condenados), mas, pelo contrário,
conhecidos e tomados como informação que leve sim a mudanças no modo como
a medicina funciona no nosso país.
“Pesquisa
conduzida pelo Center for Inquiry, associação
sem fins lucrativos baseada nos EUA” (página 46)
Essa pretensa
“associação sem fins lucrativos”, que tem dado tantos lucros diretos e indiretos
para tanta gente ao longo de algumas décadas..., faz parte de um conglomerado
“xifopagado” de organizações “negacionistas” ateu-materialistas, ditas “céticas”,
incluindo o CSICOP (os policiais da Ciência...; mudaram o nome para CSI recentemente,
para se afastar da má fama adquirida ao longo de décadas de atuação questionável
na seara social e científica estadunidense e mundial) e o CSH, todos os três
criados por um filósofo estadunidense militante “jihadista”
ateu-materialista de nome Paul Kurtz. Pasternak
é membro desse conglomerado xifópago, no ramo CSI-CSICOP. Ressalto esse ponto
porque essa aberração institucional foi responsável pelo mais desastroso
episódio de “investigação” científica “cética” no âmbito da Homeopatia, levando
a resultados socialmente lamentáveis. Essa é a versão segundo minha visão.
Na visão deles (como verão mais abaixo), eles agiram de modo bonito e cheiroso.
“Estes são
os dois princípios gerais da homeopatia: Princípio dos similares – semelhante
cura semelhante: algo capaz de provocar, numa pessoa saudável, sintomas
análogos aos de uma doença deve ser capaz de curar essa mesma doença. Princípio
da diluição infinitesimal – quanto mais diluído o princípio ativo, maior
a sua potência. (...) O princípio de que similar cura similar, ou seja,
de que algo capaz de provocar os sintomas de uma doença pode ser a cura da
mesma doença não encontra respaldo em nenhuma lei da Biologia ou Medicina.”
(pgs 49 e 50)
Esse acima
é um exemplo clássico de como o ceticismo extremo e mal intencionado adentra
com todas as honras (e chutando porta abaixo) os porões de um tipo bem peculiar
de negacionismo que traz embotamento intelectual
em geral e dano ao processo de pensamento científico mais especificamente.
Pasternak, microbiologista (!...), plenamente conhecedora do que vou dizer
a seguir, alega para a platéia que o princípio de semelhante cura semelhante
não encontra respaldo em nenhuma lei da Biologia ou Medicina. Será que ela
nunca ouviu falar de... vacina? Sim, o modo como
esse princípio de semelhante cura semelhante é abordado na Homeopatia (descrito
em alguns detalhes bem informativos por Pasternak/Orsi)
se constitui em algo altamente não pertinente (eu diria mesmo: totalmente
impertinente). Isso sem falar que, dada as altas diluições, tais medicações
sequer têm nelas o tal “semelhante” que iria curar o “semelhante”. Mas daí
a jogarmos fora nossas legítimas informações e insights científicos, junto
com nossos cérebros..., já é um exagero desnecessário e danoso. Há algumas
situações interessantes na Biologia, e mesmo na Medicina, onde “semelhante”
cura “semelhante”, além do caso das vacinas. Uma delas citarei logo abaixo. Já a questão da diluição, ela
tem um paralelo curioso com as próprias vacinas e com alguns processos de
tratamento de alergias, com administração em pequeníssimas quantidades (diluição
extrema; mas não diluição aloprada como na Homeopatia...)
justamente da substância que causa a alergia. Ou seja: ao tomar vacinas
de tratamento para a alergia (ministradas por médicos imunologistas/alergistas), você estará sendo submetido
ao princípio segundo o qual semelhante cura semelhante e ao princípio segundo
o qual diluição extrema é mais eficaz do que concentração normal, princípios
centrais da Homeopatia; a diferença é que no tratamento de alergias tais
princípios são usados de modo correto, e na situação correta... Então a origem
em si dos fundamentos do pensamento homeopático muito provavelmente não estão
baseados em Que Bobagem!®, e sim em observações inteligentes e conseqüentes
a respeito do funcionamento da Natureza. Observações que levaram a um desenvolvimento
errado no caso da Homeopatia. Mas definitivamente não é algo baseado em burrice
e bobagem, conforme Pasternak/Orsi parecem querer
doutrinar o leitor.
“Assim,
tratar dor nas costas com algo que causa dor nas costas em pessoas saudáveis”.
(pg 50)
Alerto que
estou citando essa frase acima fora do contexto dela, e apenas para ressaltar
um terceiro exemplo de semelhante cura semelhante... Quando temos dores
nas costas ou em outras partes do corpo que sejam resultado de um certo tipo de fadiga muscular ou de estresse em
tendões, muitas vezes o melhor tratamento acaba sendo submeter tais músculos/tendões
não ao repouso, e sim a mais trabalho, de modo bem administrado. O alongamento
é um exemplo disso. Então, alongamento para diminuir dores em tendões se
constitui em um terceiro exemplo de “semelhante” curando “semelhante”. Conclusão:
para refutarmos a Homeopatia não precisamos jogar a Ciência e nosso cérebro
no lixo.
“Uma solução
30C está diluída 1060 vezes, ou 1.000.000.000.000. 000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000
vezes. Para se ter uma ideia, uma diluição desse
tamanho, se não fosse obtida de maneira seriada, precisaria de um recipiente
com mais ou menos 50 vezes o tamanho da Terra para receber uma só gota de
princípio ativo, ou uma galáxia inteira para receber uma dose de medicamento
equivalente a um copinho de café”. (página 52)
Apenas um
olhar curioso e peculiar sobre os números de Pasternak e Orsi (e o que eles parecem trair...): para termos
uma gota do princípio ativo, precisaríamos de um volume equivalente a 50
planetas Terra. Isso dá praticamente o volume do planeta Netuno. Então, um
volume de planeta Netuno = a uma gota do produto. Já um copinho de café (250ml) necessitaria de um volume igual a toda a galáxia...
Mesmo?! Quantas gotas cabem em um copinho de café? Bem, com cada gota tendo
algo em torno de 0,05mL (mililitro), necessitaríamos de umas 5.000 gotas
de água. Então, em um volume equivalente a 5.000 planetas Netuno, teríamos
uma quantidade de princípio ativo equivalente a um copinho de café. Ou seja,
mesmo em um volume equivalente ao volume do nosso Sol, já seria o suficiente
para quatro copinhos de princípio ativo. Então quando Pasternak/Orsi dizem “Volume da Galáxia Inteira”, o que devemos
entender é “Um Quarto do Volume do Sol”. A diferença é tão astronômica (sem
intenção de fazer jogo de palavras...) que chega a ser vergonhoso. Esse tipo
de erro costuma ser produzido pelo afã descontrolado em esculachar com algo,
somado a um desleixo reflexivo/científico. Ou seja: é necessário muita cautela ao se ler o que Pasternak
e Orsi escrevem e concluem...
“Quanto
à memória da água: há mais de duas décadas, a revista Nature publicou artigo sugerindo que a água poderia
preservar uma espécie de ‘memória’ de materiais com que tivesse mantido
contato, mesmo na ausência do composto original. (...) A alegria dos homeopatas
não durou muito: uma investigação conduzida no laboratório responsável pelos
resultados demonstrou que o trabalho publicado na Nature
havia sido produzido sob controles inadequados e não deveria ser considerado
válido”. (pg 53)
Como poderíamos
esperar que a água tivesse memória se nem Pasternak/Orsi parecem ter... Sim, “há mais de duas décadas”
é, a princípio, correto. Mas o mais exato é “há mais de três décadas” (mais
precisamente em 1988, 35 anos atrás, como Pasternak e Orsi de fato citam devidamente nas notas de rodapé
do capítulo). Esse é talvez o capítulo mais triste e socialmente danoso da
história do “ceticismo” moderno, promovido pelo CSICOP/CSI, do qual atualmente
Pasternak faz parte. Na época, a revista Nature,
ao que parece, havia sido dominada politicamente pela influência dessa tal
“associação sem fins lucrativos”, e se juntaram na prática de esculachar
com quem quer que alegasse descobertas aparentemente
além do aceitável cientificamente. Esse não é um papel que caiba a uma revista
científica do prestígio da Nature. Isso foi uma
corrupção a essa revista, perpetrada sob os auspícios da instituição da
Pasternak (na época ela talvez nem tivesse nascido ainda..., ou tivesse
no máximo 12 anos). O papel da revista seria receber o artigo e submeter
a pares (revisores com bom conhecimento da área de pesquisa específica)
confiáveis, e em caso de dúvidas, não publicar sem investigação anterior.
Ao invés disso, Nature (o editor chefe, junto
com o pessoal do CSICOP) resolveu fazer uma “pegadinha”, uma armadilha com
o pesquisador francês Jacques Benveniste, autor da pesquisa. Publicou o
artigo, inclusive com alertas bem estranhos ao final do mesmo (que reproduzirei,
em inglês, ao fim desse trecho), indicando que haveria uma investigação ulterior...
Enviaram então o editor chefe da revista, John
Maddox, um mágico ilusionista do CSICOP James
Randi (notório por sua tendência à “mutretagem” e desonestidade investigativa; e... queridinho
da Pasternak, com quem ela tem fotinha sorridente.
Morreu em 2020. Randi, não Pasternak), e um expert em metodologia científica, Walter Stewart (esse
sim fez um trabalho honesto na ocasião). Maddox
e Randi não tiveram atuação de nenhum valor na
fiscalização dos experimentos então. Randi se
limitou a ficar fazendo brincadeiras e distraindo os pesquisadores. A ideia era ter Randi para
detectar qualquer tentativa de fraude deliberada do tipo “manuseamento indevido
de amostras de modo sorrateiro”, etc. Como não houve nada do tipo, Randi ficou ocioso. Já Stewart de fato detectou falhas
metodológicas cruciais, que invalidavam o resultado. Não houve maldade por
parte do grupo do pesquisador Benveniste. Pelo menos não até essa ocasião.
Houve meramente falha metodológica, de um tipo que eles mesmos não tinham
como se dar conta. Infelizmente isso acontece em Ciência. Ao pesquisador
cabe aceitar e corrigir rumos. Mas não é esperado o tipo de achincalhamento
que Nature ajudou ativa e veementemente a promover
contra um pesquisador. Isso trouxe um impacto muito negativo para toda essa
empreitada. James Randi, em sua tradicional
veia desonesta, assinou o artigo publicado pelo trio fiscalizador, declarando
que não havia ocorrido qualquer fraude ou tentativa de fraude durante as
investigações. Poucos dias depois, ele foi à mídia dizer que, sim, havia ocorrido
tentativa de fraude, detectada por ele (não queria assumir a inutilidade de
sua presença lá; preferiu mentir e caluniar, como fez em muitas outras vezes
em sua atuação social junto à tal “associação sem
fins lucrativos”...). Resultado prático: diante de um trabalho de validade
nula (a pesquisa do Jacques Benveniste), Nature
conseguiu gerar um resultado que espantou pesquisadores de todo mundo, levando
todos a um grande estranhamento de toda a situação (ouvi isso de pesquisadores
brasileiros na década de 1990). Geraram, consequentemente,
uma suspeita infundada de que talvez o pesquisador francês estivesse certo,
e a Homeopatia de fato tivesse alguma base. Isso com certeza atrasou por décadas o combate eficaz à Homeopatia, trazendo
um prejuízo incalculável para diversos países. Tudo sob os auspícios da instituição
à qual Pasternak pertence... Pior, mesmo se a memória da água fosse comprovada,
isso estaria bem longe de comprovar a eficácia dos remédios homeopáticos.
Recentemente tivemos um certo grau de comprovação
do efeito da cloroquina contra o vírus do covid-19
in vitro (ou seja, em laboratório, nos tubos
de ensaio e placas de cultura), mas nenhuma comprovação de tal ação in vivo
(em corpos humanos vivos reais). Maddox e Randi promoveram uma devastação por nada... Já o terceiro
membro do trio investigativo, Stewart, agiu como profissional, revelou a
falha metodológica, e merece todo o agradecimento por quaisquer efeitos positivos
que tenham advindo dessa trapalhada colossal. Reproduzo a seguir, em inglês,
o texto que foi aposto logo a seguir ao artigo inicial de Benveniste:
Editorial
reservation: READERS of this article may share the incredulity of the many
referees who have commented on several versions of it during the past several
months. The essence of the result is that an aqueous solution of an antibody
retains its ability to evoke a biological response even when diluted to such
an extent that there is a negligible chance of there being a single molecule
in any sample. There is no physical basis for such an activity. With the
kind collaboration of Professor Benveniste, Nature
has therefore arranged for independent investigators to observe repetitions
of the experiments. A report of this investigation will appear shortly.
“Não há
qualquer explicação possível para uma suposta eficácia dessa prática que
não contrarie completamente tudo o que sabemos hoje sobre ciência”. (pg 53)
Acima um
exemplo indefectível de histeria “cética”. É comum céticos
(pseudocéticos, na verdade) pegarem algo
que eles não acreditam e alegarem que, se o fenômeno for real, jogará por
terra tudo que sabemos hoje sobre Ciència, ou
algo similar. Normalmente a realidade é bem menos histérica do que isso,
e o fenômeno em questão, se de fato existir, pode até a vir se encaixar nos
demais conhecimentos. E definitivamente não jogará no lixo TODA A CIÊNCIA
QUE CONHECEMOS. Ceticismo, Sim! Histeria, Não...
“O argumento
de que mais estudos são necessários tem um limite: quanto basta? Duzentos
anos já não é tempo suficiente?” (pg 55)
Não sei
de onde Pasternak tirou esses 200 anos. Mas, independentemente de serem 200 ou 20, o fato é que tudo, ao que sei, leva
a refutarmos a Homeopatia. Não é necessário inventarmos conseqüências (“toda
a Ciência conhecida ruirá”) e nem números (“200 anos de refutações já ocorreram”).
Esses exageros só destroem nossa respeitabilidade.
“Também
em 2005, houve uma tentativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) de conferir
endosso institucional à homeopatia. Os autores Cees
N. M. Rencken, Tom Schoepen
e Willem Betz, racionalistas da Bélgica e da
Holanda, tiveram acesso ao documento da OMS e reportaram o caso na revista
Skeptical Inquirer.
O documento, então ainda em fase de rascunho, argumentava em favor da homeopatia,
para que se tornasse uma modalidade aceita pela OMS. Trazia referências
já refutadas pela comunidade científica, como o infame artigo sobre a memória
da água na Nature, e deixou de mencionar qualquer
evidência ou revisão de literatura que apontasse que homeopatia não funciona.
Talvez graças à denúncia dos céticos, o documento desapareceu num limbo
e nunca se tornou política oficial da OMS.” (pg
56)
“Talvez
graças à denúncia dos céticos”. Os “céticos” (ou seja, os pseudocéticos tantas vezes desonestos do CSICOP-CSI)
de certo não tiveram papel nenhum nisso. Mas gostam de se auto promover, como Pasternak tenta fazer acima. O
leitor atento perceberá claramente a falcatrua de levar crédito pelo que
não têm...
“Em 2009,
o grupo Voice of
Young Science, da ONG britânica Sense About Science (SAS), encaminhou uma carta aberta à Organização
Mundial de Saúde, cobrando uma posição clara sobre o uso indevido de homeopatia
para cinco doenças de circulação global e alto impacto
em saúde pública: HIV, tuberculose, malária, influenza e diarreia infantil”. (pg
57)
Novamente
um exemplo de tentativa ridícula de levar crédito onde tais “céticos” não
têm crédito nenhum. Patético. Ou Pasternétiko...
“Esses resultados
levaram ao fim do financiamento público da homeopatia na Suíça em 2005 e
na Austrália em 2015”. (pg 58)
Vejam, eu acordei
para as falhas da Homeopatia, tardiamente, em 2004. Já a Suíça... só em 2005! E a Austrália
10 anos depois! Essa situação é muito grave. Por isso é necessário que levemos
pessoas como Pasternak e Orsi a lutarem contra
a Homeopatia do modo correto, para que não tenhamos mais décadas de revezes
devido a fiscalizações mutreteiras como as conduzidas
pela Nature/CSICOP em 1988.
“Na Inglaterra,
os hospitais públicos pararam de financiar homeopatia em 2018. A França
parou de reembolsar remédios homeopáticos em 2021”. (pg 58)
Inglaterra,
2018! França, 2021! Brasil, ainda sem seguir tais passos!...
“De acordo
com a regulamentação da Comissão Nacional de Comércio” - dos ESTADOS UNIDOS,
- “órgão federal de defesa do consumidor contra fraudes e publicidade enganosa,
a bula de homeopáticos (nos Estados Unidos) deve conter os seguintes alertas:
Não há evidência científica de que este produto funcione. As alegações deste
produto são baseadas somente em teorias praticadas em 1700 e que não são
aceitas pela medicina moderna. No Brasil, em contraste, a homeopatia é considerada
uma especialidade médica, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina,
e faz parte da PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares),
lançada em 2006.” (pg 59)
Muito grave,
a meu ver.
“Na prática,
o que vemos, principalmente na rede pública, são atendimentos apressados,
profissionais sobrecarregados e pacientes que são mandados para casa após
horas de espera, uma consulta de dez minutos e uma receita. Não é surpresa,
pois, que os mesmos pacientes se sintam muito mais acolhidos e respeitados
no consultório de um médico homeopata que lhes dispense atenção por pelo
menos uma hora, mesmo que a receita do medicamento seja baseada em bolinhas
de açúcar e pensamento mágico.” (pg 62).
Nesse trecho,
Pasternak/Orsi falam em defesa de uma melhoria
do sistema de saúde brasileiro, chamando a atenção para os graves problemas
enfrentados pelos profissionais de saúde. Trecho Preciosíssimo!
“O problema
não é o preparado homeopático em si, mas o que ele representa em mudanças
de comportamento e aceitação do pensamento mágico como solução para problemas
reais”. (pg 65)
Acima eles
se referem a doenças de leve gravidade, que possam, sem perigo real à vida
e à saúde, ser tratadas com um placebo, no caso
o tratamento homeopático. Existe a meu ver uma balela com relação ao tal
pensamento mágico. Sim, ele pode ser um problema. Mas quase sempre esse tipo
de pensamento é muito mal entendido pelos seus detratores. E no caso específico
da Homeopatia, os pacientes inclusive acreditam estarem de fato consumindo
um princípio ativo. Então os pacientes estão, quase sempre pelo menos, significativamente
longe de um verdadeiro “pensamento mágico”, por mais que esse termo em si
já seja um termo canhestro.
“A atriz
brasileira Dina Sfat foi diagnosticada com câncer
de mama em 1986. Ela recusou cirurgia e tratamento e optou por se valer
apenas de homeopatia, acupuntura e outros tipos de medicina alternativa.
Faleceu em 1989, após metástases do câncer.” (pg
66)
Essa informação
acima não é muito fácil de encontrar. Vi que a revista Veja, pouco após o falecimento de Dina Sfat, citou essa informação. Dina Sfat, após algum tempo (dois anos, talvez menos),
seguiu um tratamento tradicional (Pasternak e Orsi
omitem isso), e isso sim é mais fácil de encontrar na internet. Seguiu o
tratamento então, mas infelizmente sem sucesso. Muito provavelmente devido
ao protelamento inicial. Lembro de, alguns anos
após sua morte, eu ter visto uma declaração dela sobre ter buscado a ajuda
de um “paranormal” muito badalado na época, Thomas Green Morton (mineiro...). Ela sentia ter sido enganada,
levada a confiar nele indevidamente por causa da grande fragilidade em que
se encontrara. Muito ruim. Eu gostava muito de Dina Sfat. Muito triste as coisas que podem acontecer
conosco...
CAPÍTULO
SOBRE CURAS ENERGÉTICAS
Antes de
mais nada, é obrigatório
dizermos o fundamental: qualquer pretensa cura, no mundo moderno, precisa
ser validada pelos métodos investigativos da Ciência. Eu me refiro a isso
desse modo: “Você tem um maravilhoso método de cura para o qual nem tem
explicação de como funciona? Não há problema. Por mais de 50 anos a Ciência
sabia que a aspirina atuava na dor, mas não sabia qual mecanismo. Tudo que
você precisa fazer é provar que teu método funciona. Pegue a senha e entre
no final da fila da Anvisa
para provar sua alegação cientificamente igual a todo mundo!”. Isso se aplica
a qualquer alegação de cura energética e etc. Existe algum procedimento de
cura energética aprovado pela Anvisa?
Resposta: Não. Então, fim de papo.
Infelizmente
existem pseudocientistas pseudocéticos que não se contentam com isso. Eles
querem afirmar que, além de não haver nada provado (no caso, com relação
às tais “curas energéticas”), a chance de isso vir a ser provado é virtualmente
inexistente. Querem chutar o cachorro morto. No Instituto Ponto Azul do psicólogo
Daniel Gontijo, no qual ingressei como olheiro (mas também, sempre, como
potencial aprendiz), houve um “professor” do curso Tudo Sobre Pseudociências,
o físico Marcelo Schappo, que palestrou sobre
o tema “Charlatanismo Quântico”. Apresentei sólidas críticas a diversos pontos
da aula dele, e concordei com muitos pontos, acima de tudo com o fundamental:
alegas que curou? Tens que provar. Mas Schappo
não se contenta com o fundamental, e ficou indignado com minhas críticas,
ao ponto de se recusar a dar continuidade à troca de ideias por email. Pior,
se recusou a admitir que estava errado em sua
citação ao físico dos anos 1920, Percy Bridgman (citou o artigo sem ler, inclusive), e se
recusou a ler o prefácio escrito pelo físico talvez mais brilhante da História
do Brasil, Mário Schenberg, ao livro O Tao da Física (esse livro, do ano de 1975, se propõe
a mostrar paralelos entre a física moderna-quântica
e diversas correntes místicas milenares, podendo-se dizer que ele praticamente
inaugurou o misticismo quântico mundial, e nisso é, sim, altamente problemático
em diversos aspectos; a despeito disso, é leitura muitíssimo enriquecedora,
em especial em relação às diferentes peculiaridades das várias correntes
místicas descritas, e é também muito enriquecedor no que tange ao misticismo
em si). Não se trata de ler e discordar. Ele se recusou a ler. Mario Schenberg, neste curtíssimo prefácio, faz algumas
considerações filosóficas e físicas a respeito de alguns dos aspectos do
livro, em forças e fraquezas. Esse tipo de postura, emburrecida
e emburrecedora de Marcelo Schappo, somente enfraquece o crítico.
Enfim, o
que podemos fazer? Eu, tentei ajudar. Paciência.
Comentarei então alguns pontos lamentáveis, ou pelo menos criticáveis, do
capítulo do livro de Pasternak/Orsi sobre curas
energéticas. Não me espantará, tristemente, se esses autores, bem como a
maioria dos apoiadores do livro, meramente se limitarem a enfiar a cabeça
dentro da areia diante de considerações como as que faço
a seguir...
“Há quem
apele para conceitos como ‘campo de consciência’ ou ‘vácuo quântico’ para
contornar essa limitação – como se esses entes tivessem a capacidade de amplificar
ou multiplicar os sinais de origem. Mas ‘campo de consciência’ não existe,
e o vácuo quântico não funciona do jeito que os proponentes da medicina energética
imaginam.
Pasternak,
Natalia; Orsi, Carlos”. (páginas
138 e 139)
Que bom
que Pasternak e Orsi, apesar de não saberem
patavina de Física (bem, Schappo sabe e... deu
no que deu), deixaram claro e nos ensinaram que não existe campo de consciência.
O renomadíssimo neurologista Benjamin Libet tem um brilhante artigo onde ele desenha um
experimento justamente para testar essa hipótese (um desenho bem elegante,
por sinal. Publicado no prestigiado periódico científico Journal of Consciousness Studies.
https://philpapers.org/rec/LIBATT ). Mas,
graças a Pasternak, esse trabalho não será mais necessário. Pessoalmente,
eu também acho que não existe campo de consciência, e que o vácuo quântico
não funciona do jeito que os “energeticistas”
alegam (a propósito: o campo de consciência postulado por Libet também não tem as características propostas
pelos energeticistas, pelo menos não necessariamente).
Mas eu não vou violentar a Ciência indo ao extremo de afirmações “desembasadas” como as de Pasternak e Orsi. Pode ser que exista campo de consciência. E
pode ser que o vácuo quântico funcione de modo a viabilizar curas energéticas.
Quem pode nos dar a resposta? Por ora, a Anvisa. E... todos
sabemos a resposta. Então, sem apoios catatônico-psicóticos, nem negações
histérico-neuróticas; por favor.
“Como escreve
o físico Sean Carroll em seu livro The Big Picture
(O Quadro Geral):3 sabemos que não há novas partículas
ou forças por aí, ainda a serem descobertas, que poderiam apoiar [poderes
paranormais]. E não simplesmente porque ainda não as descobrimos, mas porque
definitivamente já as teríamos descoberto, se tivessem as características
necessárias para nos dar os poderes necessários. Repare que Carroll não
afirma que nenhum novo fenômeno físico jamais será descoberto; o que diz
é que qualquer nova força, se relevante na escala humana, do cotidiano,
já teria sido notada, caso de fato existisse”. (pg
139)
Eu tenho
uma resenha bem condenatória a esse livro do Carroll, no site da Amazon, em inglês. Carrol
é físico teórico. Não mete a mão na massa. Ele afirma: já teríamos descoberto
se existisse. Balela pseudocientífica! A pergunta
número um é: Quem está procurando? Resposta: ninguém. Há coisas dificilíssimas
de achar na Natureza, mesmo quando se tem certeza absoluta de que ela existe
e de onde ela está. O bóson de Higgs é talvez
o exemplo mais emblemático disso (50 anos para ser achado, apesar de saber-se
que ele existia, e de saber-se onde ele estava). Vejam também o exemplo
da Matéria Escura e Energia Escura. Até os anos 1980, conhecíamos apenas
4 porcento do Universo
ao nosso redor! Noventa e seis (96!!!) porcento foram descobertos em anos extremamente recentes
(ou seja, a Matéria Escura e a Energia Escura). E o cara vem me dizer que
“se o elemento espiritual existisse, já teríamos detectado”. Agora estão
aventando a possibilidade do Universo ter, não
13 bilhões, mas 26 bilhões de anos. Ou seja, conhecíamos só 4% da substância do Universo, e, talvez, só 50%
do tempo! Francamente, Carroll, bota a mão na consciência, cara! Carroll
se permitiu participar de um debate ridículo sobre vida após a vida (assunto
sobre o qual ele não entende “necas”) junto com outro ateu materialista e,
no pólo oposto, o médico Raymond Moody Jr. (quem
é dos anos 1970, sabe de quem se trata...) e um neurologista que ficou um
pouco badalado há uns dez anos atrás (Eben Alexander).
O debate foi um fiasco, de ambas as partes (está no youtube).
Certa vez, no blog do Carroll (The Preposterous Universe),
eu fiz uma crítica a um artigo dele onde ele se aventurava a falar sobre
a Consciência, e condenei o que, a meu ver, se mostrava como ignorância básica
dele sobre o assunto. O que fazer então? Como sempre: provou que existe
cura espiritual? Então vamos procurar pelo espírito, ou pela partícula espiritual,
etc. Não provou? Desculpe então, mas a fila da Anvisa anda. Próximo!
“Outro físico,
Victor Stenger, num artigo científico que discute exatamente quais seriam as bases de uma suposta
força vital, ‘The Physics
of Complementary
and Alternative Medicine’
(A Física da Medicina Alternativa e Complementar), lembra que organismos
vivos são feitos dos ‘mesmos quarks e elétrons que compõem uma rocha ou um
rio’, são alvo das mesmas forças, e que a ciência hoje é capaz de detectar
efeitos eletromagnéticos infinitesimais – mas jamais captou indício de força
vital ou poder psíquico”. (pg 139-140)
Fiz resenhas
fortemente condenatórias para diversos dos livros do Stenger. Entrei no fórum dele (Avoid-L) e me digladiei com diversos dos colegas dele.
Toneladas de erros denunciados por mim. Um vexame só. O trecho acima falando
sobre o Stenger contém o mesmo vício do trecho
que fala sobre Carroll. Esse tipo de discurso afasta as pessoas de um pensamento
verdadeiramente científico, e transforma pessoas bem intencionadas em pseudocientistas com impacto nocivo sobre a Sociedade.
Lamentável.
“Claro,
o fato de a ciência ser incapaz de explicar um fenômeno não implica, necessariamente,
que o fenômeno não existe”. (pg 140)
Essa singela
frase acima de Pasternak/Orsi deveria ter sido
o suficiente para eu não fazer contra eles as críticas que fiz. Sim, os
leitores mais atentos (na verdade, os leitores extremamente atentos!) conseguiriam
se beneficiar completamente da frase acima. Mas a esmagadora maioria de
nós outros acaba sendo contaminada pela enxurrada de esculachos exageradamente
indevidos perpetrados por Pasternak e Orsi.
E acabamos saindo por aí promovendo os mesmos linchamentos e “cancelamentos”
exagerados e desnecessários...
“Emily Rosa
tinha 11 anos quando conseguiu algo com que muitos cientistas com décadas
de carreira apenas sonham: assinar um artigo publicado num periódico científico
de primeira linha. Em abril de 1998, o Journal
of the American Medical Association
(JAMA) trazia a público o trabalho ‘A Close Look
at Therapeutic Touch’ (‘Um Exame Detalhado do Toque Terapêutico’,
em tradução livre), em que um experimento, desenhado por Emily dois anos
antes para a feira de ciências da escola, demonstrava que praticantes de
TT eram incapazes de detectar o tal ‘campo energético humano’ (ou ‘biocampo’), de que suas supostas ‘curas’ dependiam.
A metodologia adotada era de uma clareza solar: profissionais de TT (21
ao todo, alguns com mais de 25 anos de experiência profissional na área)
tinham de introduzir suas mãos por um anteparo”... (pg 141)
O objetivo
da singela historinha acima é um só: mostrar que até uma menininha de 9 anos (sim, ela tinha 9 anos) consegue fazer um desenho
de experimento científico melhor do que toda a comunidade de parapsicólogos
do mundo. Quando um “cético” me apresentou esse dado, parei e fui pesquisar
antes de tentar refutar. O que descobri foi de cair o queixo. O leitor interessado
poderá encontrar a descrição disso no link que vou indicar abaixo, em inglês.
Adianto agora apenas que até muitos céticos, e mesmo instituições céticas,
condenaram esse artigo ao qual Pasternak/Orsi
se referem. E a revista JAMA estava na época politicamente dominada pela
trupe do CSICOP/CSI (instituição da qual atualmente Pasternak faz parte...),
entre eles um forte opositor meu de nome Andrew Skolnick
(editor da revista JAMA). Já vimos esse episódio lamentável anteriormente
ocorrendo com a revista Nature em 1988 contra
Jacques Benveniste (citei isso em trecho anterior nessa minha análise do
livro “Que Bobagem!”). Não devemos confundir macaquice com Ciência. Se, talvez
quase sempre, os proponentes do paranormal não têm decoro, isso não nos isenta, cientistas (ou pensadores esclarecidos e honestos),
de termos... Abaixo, link onde eu debato com o “cético” e analiso também
o caso da moçoila acima. (e, a propósito do “Toque Terapêutico Curativo”...:
é aprovado pela Anvisa?
Não? Então, próximo!).
https://www.criticandokardec.com.br/irreducible_skepticism.htm
CAPÍTULO
SOBRE PSICANÁLISE
“Cada área
da ciência tem o seu próprio complemento de pseudociência. (...) Os psicólogos
têm *grande parte* da psicanálise
e quase toda a parapsicologia”. – Carl Sagan. O Mundo Assombrado pelos Demônios
(ano 1995. Grifos nossos).
Alguns comentários
prévios antes de eu abordar diversos trechos de Pasternak/Orsi no capítulo que eles fizeram sobre a Psicanálise...
Esse capítulo foi o que mais trouxe polêmica na Sociedade, e é também o mais
lamentável, o mais científica e socialmente irresponsável e danoso, do livro
“Que Bobagem!”. Sua qualidade teórica é baixíssima. Ele consegue ser imensamente
pior do que a aula número 2 do curso Tudo Sobre Pseudociências do IPA+ (Instituto
Ponto Azul – Daniel Gontijo) ministrada pelo psicólogo recém formado (se
formou ano passado..., em fins de 2022) Clarisse Ferreira, aula essa que
eu tanto critiquei de modo sólido e cabal (erros, fraude, e ofensa caluniosa
hedionda por parte do psicólogo Ferreira), sem qualquer retorno ou atenção
científico-social zelosa por parte dos responsáveis... (nem do Ferreira,
a quem enviei email, nem do Instituto Ponto Azul/Daniel Gontijo). Pasternak
e Orsi foram imensamente piores. Eles não fizeram
uma revisão bibliográfica decente, exigência número 1 de qualquer trabalho
científico honesto. Não descreveram devidamente o que é a “Psicanálise”,
e igualmente não descreveram devidamente suas postulações teóricas, e nem
explicaram devidamente porque, onde, e como suas postulações podem se mostrar
inválidas em face dos descobrimentos da neurociência dos últimos 30 anos.
E pior de tudo: esconderam dos leitores o “outro
lado da história”, ou seja, as evidências científicas atuais em artigos publicados
que embasam a cientificidade da Psicanálise. Eu estou afirmando que tais
artigos são válidos? Não. Eu não os li. Mas esconder sua existência é desonesto.
Por quê Pasternak e Orsi
se prestaram a esse papel? É entristecedor, deprimente. Deixa em nós um sentimento
de luto. Aquela que, outrora, aquecia nossos corações e almas como uma verdadeira
heroína da pandemia (Natália Pasternak), retorna agora transfigurada em abutre
da distopia pós pandêmica, parecendo querer faturar
em finanças e prestígio em cima do espólio da discussão sobre o negacionismo científico. Que país é esse... Que pessoas
são essas que apoiam esse tipo de coisa... (os
leitores tietes afoitos). Não concordo com Henry Bugalho (influenciador digital
– youtuber) que alega que, pelo menos, o debate
subiu de nível, já que não estamos mais discutindo pessoas virando jacaré
por causa de vacinas ou mamadeira de piroca. Para
mim é muito, muito pior. Mas, talvez essa minha reação seja só fruto da minha
depressão não tratada pela PBE/TCC...
O que é
Psicanálise então? Aliás, quem sou eu para falar de Psicanálise, pró ou
contra?... Na verdade, pouco sei de Psicanálise. Mas, do que sei, consigo
detectar falhas gravíssimas em alguns dos “críticos”, e também em alguns
dos “defensores” da Psicanálise. Minha formação é em Biologia (1994), com
mestrado em Microbiologia Médica, ênfase em Bacteriologia Clínica (2001).
Nunca trabalhei em Biologia/Bacteriologia, e além dessa formação, passei
por fortíssimo período de estudos nos anos iniciais do século XXI, em muitíssimas
leituras e debates na internet contra “céticos” dos mais variados matizes
e formações, e também junto a pesquisadores de Parapsicologia. Fiz também,
na década de 1980, seis anos de Psicanálise (fui paciente), e tive alguns
créditos de Psicologia em duas instituições de preparação para o ensino em
que estudei (Universidade Santa Úrsula e Teachers
Training Course do Instituto Brasil Estados
Unidos). Além disso, conversas com psicólogos e psicanalistas, etc. Ou seja:
o trivial, digamos. Disso tudo, como vejo a Psicanálise?
Bem, me corrijam se eu estiver errado (e duvido sinceramente que eu precise
ser corrigido...):
Psicanálise
não é um bloco monolítico coeso, muito longe disso na verdade. Há diversas
linhas. Mesmo tendo se iniciado com Freud, e tendo uma vertente forte com
Lacan, com certeza (quase sempre que alguém usa da expressão “com certeza”,
isso quer dizer que a pessoa não tem certeza...) apresenta uma certa “exuberância” de manifestações teórico-práticas ao longo das décadas e nos mais diversos
locais onde foi e é praticada. Possui um corpo teórico (vários corpos, provavelmente.
Dependendo da linha/nuance), e um braço terapêutico.
Como terapia,
a Psicanálise não é Ciência, como de resto nenhuma terapia é. A terapia
visa a cura (ou algo suficientemente similar).
Ponto. Psicologia, ou Medicina, não são Ciências. Medicina, por exemplo,
ou qualquer outra terapia, deseja resultados. Explicações e teorias (Ciência
no sentido mais exato do termo) são valiosíssimas, mas secundárias para
as terapias. Mas, os resultados têm que ser verdadeiros, de acordo com o
melhor que a Ciência puder determinar como verdade de
acordo com a época/local histórico (talvez eu não devesse incluir
“local”; mas, por outro lado, talvez seja uma postura generosa e factualmente
honesta para com “locais” mais atrasados, onde se tente sinceramente fazer
o melhor; vem-me à mente nesse momento a Medicina cubana...). Então, Medicina,
Psicologia, Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), Psicologia Baseada em
Evidências (PBE), Psicanálise, etc, acabam sendo
Ciência no sentido de fazerem parte do, digamos, ciclo de produção de conhecimento
científico. E muitos profissionais dessas áreas acabam não atuando na terapia
em si, e acabam se constituindo de fato como cientistas da área respectiva.
Então, sim, podemos dizer que existe uma Ciência Médica, Ciência Psicológica,
etc, ainda que o campo origem seja, estritamente,
uma terapia, interessado em primeiro lugar com “resultados”, não com “conhecimento”.
Alguém pode, com um certo grau de propriedade,
considerar essa exposição minha acima como discutir o sexo dos anjos. Mas
vejo esse delineamento Terapia vs
Ciência como muito importante, porque há diferenças humanistas fundamentais
entre áreas como a medicina e áreas como a zoologia, química, etc.
Um outro ponto importante
é que a Psicanálise, assim como a própria Medicina, vem de uma época onde
a dita “evidência anedótica” e a experiência pessoal do terapeuta era praticamente
quase tudo que se podia ter. Na minha passagem pela área Biomédica, nos anos
1990 na UERJ, ainda convivi com os ecos disso na Medicina, bem fortes por
sinal.
Aos meus
olhos (e creio que aos olhos de muitos), a Psicanálise em geral parece possuir
algumas características altamente, digamos, estranhas (e talvez, sim, perigosas...)
enquanto tentativa de ser Ciência. A presença quase viva de Freud e Lacan
é uma delas. Isso não me parece existir na Biologia. Darwin é mais um ícone
distante do que uma realidade estudada. Ninguém lê Darwin (a Biologia Evolutiva
atual é imensamente diferente do que Darwin pensava...). Parece muito estranho,
a pessoas com a minha formação, que ainda se estude Freud do jeito que muitos
psicanalistas estudam.
Outro problema
é, sim, a confiança nos relatos anedóticos e na experiência pessoal clínica
nos consultórios dos psicanalistas (e nesse ponto eu resgato essa questão
que citei um pouco mais acima). Uma coisa que os “críticos” a meu ver precisam
entender é que não é tão fácil ir além do relato anedótico no campo da Psicologia
em geral, e na Psicanálise especificamente (ou na TCC, por exemplo). Pelo
menos assim me parece... Isso também era relativamente assim na Medicina
há não muitas décadas atrás. Avanços tecnológicos ajudaram a fazer isso mudar
mais fortemente na Medicina, mas *me parece* (ou seja: sim, preciso me inteirar
melhor disso) que em questões psicológicas ainda não há avanços suficientes
para gerar resultados de fato bem confiáveis. É meio assim: no geral, os
resultados na Física são mais confiáveis que na Química que são mais confiáveis
do que na Biologia que são mais confiáveis do que na Medicina que são mais
confiáveis do que na Psicologia ou Sociologia que são mais confiáveis, talvez,
que na História... Mas isso não isenta a Psicanálise, e qualquer área da Psicologia,
de tentar o melhor possível identificar se sua atuação e sua visão teórica
são válidas. A mim não resta dúvida (e me perdoem se eu estiver errado...)
que a Psicanálise, em geral, falha muito nisso. Ou seja, muitos psicanalistas,
muitas instituições psicanalíticas, muitas linhas psicanalíticas deixam muito
a desejar nesse ponto. Poderiam buscar suas próprias falhas e não buscam
(e isso incluiu ouvir atentamente os críticos; na verdade, buscar os críticos).
É bem parecido com o que ocorre com o próprio Instituto Ponto Azul, do psicólogo
Daniel Gontijo: preferem enfiar a cabeça na areia do
que admitir que estão errados em algum ponto. Aliás, deve ser por
isso que essa instituição se chama Ponto Azul: a crença cega e quase religiosa
de que, em qualquer ponto, essa instituição esteja com “tudo azul”... (ou
seja, tudo sem problema, tudo correto). Sim, porque definitivamente não é
por tentar seguir, nas qualidades, o saudoso Carl Sagan, que se utilizou
da simbologia do ponto azul para se referir à
Terra. Sagan, em honestidade intelectual e informação abalizada, afirmou
em 1995 (e de lá pra cá a coisa melhorou muito para a Psicanálise): “Cada
área da ciência tem o seu próprio complemento de pseudociência. (...) Os
psicólogos têm grande parte da psicanálise
e quase toda a parapsicologia”. – Carl Sagan. O Mundo Assombrado pelos Demônios
(ano 1995. Grifos nossos). Daniel Gontijo, em oposição pseudocientífica a Sagan, vive afirmando (em 2023!...):
Psicanálise é Pseudociência! Psicanálise é Pseudociência! Psicanálise é
Pseudociência! Parece até aqueles mantras tibetanos. Que Bobagem!... Mas,
atendo-se e voltando ao nosso foco mais específico.
Como qualquer
Ciência, ou tentativa de Ciência, a Psicanálise (Freud) desenvolveu uma
determinada teoria a respeito de um objeto. Freud viu uma caixa preta (o
ser humano, o corpo externo e seu comportamento), e tentou entender o funcionamento
interno dessa caixa preta. A partir de suas conclusões, propôs um modo de
interagir terapeuticamente com esse interior. Com certeza deve ter havido
muitas falhas por parte de Freud nesse processo. Analisar
e entender isso é riquíssimo. Mas com certeza deve ter havido muitos
acertos por parte de Freud. E isso também é de uma riqueza ímpar. Há que
se analisar isso com honestidade intelectual, o que, muitas vezes, parece
ser algo raro em ambos os campos... (tanto da parte dos defensores quanto
da parte dos detratores...; há também muita falha que parece não se dar
devido estritamente a desonestidade intelectual, mas sim a inabilidade em
analisar cientificamente essa questão, por parte de defensores e detratores;
acredito que, mais comumente, o que ocorre é uma mistura esquisita das duas
coisas: inabilidade científica + desonestidade intelectual). Acima de tudo
parece sim estranho que as visões de Freud ainda vigorem do modo que parecem
vigorar. Seria esperado, penso eu, que mudanças significativas tivessem sido
realizadas, devido a novas descobertas, etc,
em especial depois de 30 anos de avanços na neurologia (a década de 1990
foi declarada a década do cérebro. E de lá pra cá a coisa só fez avançar
mais).
Então, a
meu ver, como leigo nessa questão toda, me parece que estamos entre dois pólos:
a dificuldade ainda existente em se investigar “cientificamente” as afirmações
teórico-terapêuticas da Psicanálise versus a capacidade já disponível em
se investigar tais afirmações. A nós cidadãos interessa
que os experts se comportem da melhor maneira
possível nessa pendenga, com vistas a melhorias para todos. E temos sim
o direito, e o dever!, de
cobrarmos deles (de Gontijo, de Ferreira, de Landeiro,
etc; esses dois últimos, palestrantes anti Psicanálise
no IPA+) que ajam com honestidade intelectual e com rigor/excelência investigativa.
Já quanto aos papagaios de pirata (Orsi, Pasternak,
eu...), que não são da área, a responsabilidade é ainda maior se nos aventurarmos
a afirmar que Psicanálise (ou TCC, ou PBE) é Ciência ou que é Pseudociência,
principalmente se alegarmos ter informações suficientes sobre a questão
(que é o caso de Pasternak e Orsi...). É quase
como exercício ilegal da Psicologia. Salvo se estivermos de fato muito embasados,
e fizermos afirmações compatíveis com nosso grau de conhecimento. Carl Sagan
é um exemplo desse embasamento exemplar. Eu não. Critico, então, apenas
aquilo a que tenho contato, e dentro de minhas reais capacidades. Passo
então a comentar alguns trechos da papagaia Pasternak e do papagaio Orsi. Mas antes, indico dois links importantes, digamos,
pró cientificidade da Psicanálise, e dois links
importantes contra a cientificidade da Psicanálise:
1- https://www.sbpsp.org.br/blog/que-bobagem-e-o-negacionismo-de-evidencias-cientificas/
Esse artigo
disponível no link acima me chamou a atenção em especial. Seu título é:
“Que bobagem é o negacionismo de evidências
científicas abundantes sobre psicanálise e psicoterapias psicodinâmicas!”,
de autoria do psicanalista Rogério Lerner, 24
de julho de 2023, blog de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise
de São Paulo. Vi muitos ataques bem pobres (inclusive vindos de psicanalistas!)
ao livro de Pasternak e Orsi antes de me indicarem
esse artigo acima. Não li, na verdade, ainda. Mas, em uma olhada inicial,
me pareceu digno de nos debruçarmos sobre ele. Claro, farei isso posteriormente.
2- https://youtu.be/eHmn2zcjyZc
No link
acima temos um debate onde, segundo dizem, Orsi
tomou uma coça feia de um verdadeiro cientista que apresenta evidências pró eficácia da Psicanálise em algumas situações. Houve
um chororô e mimimi por parte de tietes pseudocientíficos
alegando mil coisas contra o cientista (inclusive no Instituto Ponto Azul, grupo do Telegram).
Mas, mesmo sem eu ter visto ainda, é claro que se Orsi
tivesse embasamento, não teria passado a vergonha que dizem ter passado.
Será que Pasternak tem coragem de enfrentar o cara? Duvido. Acima de tudo,
é preciso que todos entendam uma coisa: não se vence debate científico.
Em um verdadeiro debate científico, todos vencem,
em especial a sociedade. Aliás, quem mais “vence” é quem *perde*,
pois que aprende muito. E quem mais “perde” é quem *vence*, pois
que meramente ensina. Acho que Dilma Rousseff
apreciaria essa lógica...
3- https://www.youtube.com/watch?v=NFDUhURDlko
No link
acima, temos a palestra no Instituto Ponto Azul do psicólogo recém formado
(formou-se em fins de 2022) e já diretor (???!!!...)
da mais importante entidade pró Psicologia Baseada em Evidências do Brasil,
Clarisse Ferreira. Sua palestra possui erros crassos, fraude em exposição
de informação importante, e calúnia hedionda contra pobres inocentes da
primeira metade do Século XX (e... o IPA/Daniel Gontijo jamais moveram uma
palha para sanar tais vícios. E, NENHUM membro do IPA+ teve a decência de
se juntar a mim na indispensável condenação a tais graves
falhas. Patético e deprimente). Mas ainda assim é fundamental de ser conhecida,
pois que o psicólogo Ferreira cita artigos onde seria demonstrado que o
material científico recente pró Psicanálise é inválido. A conferir então!
4- https://www.youtube.com/watch?v=YV3N7HWFcHg
No link
acima há uma palestra no Instituto Ponto Azul da psicóloga Fernanda Landeiro. Creio que ela é do mesmo grupo do psicólogo
Ferreira acima. Sua palestra é em diversos aspectos excelente. Ou pelo menos
parece ser. E, assim como a do Ferreira, indica artigos e material a ser
conhecido por quem quiser responsavelmente (diferentemente de Pasternak e
Orsi) discutir esse assunto. Mas há um problema
gravíssimo que macula a palestra de Landeiro,
aliás desnecessariamente, mas, talvez, sintomaticamente...
Ele comete uma grave ofensa ética (passível de denúncia no Conselho Regional/Federal
de Psicologia, conforme verifiquei na legislação pertinente) contra colega
psicóloga psicanalista, baseada meramente em evidência anedótica da mais
fraca estirpe (aliás, justamente o que Landeiro
tanto critica na Psicanálise! Uma paciente dela reclamou de suposto atendimento
anterior recebido de profissional psicanalista). Aí ela nos faz, na vídeo palestra, um relato anedótico dessa reclamação
anedótica da paciente dela, e apresenta isso (o relato anedótico do relato
anedótico; sim, em duplicata mesmo!) como evidência científica sólida e
válida contra a Psicanálise. É dose... (e, naturalmente, isso tudo nos leva
a ponderar sobre a qualidade das reflexões científicas dela contra a Psicanálise).
Ao eu relatar isso para os membros do IPA+ (e para Daniel Gontijo), um dos
membros, psicóloga de TCC, se limitou a... gargalhar
(e a fazer ofensas à minha vida pessoal; mas isso não nos interessa na análise
dessas questões científicas em si. Ela pode me ofender em minha vida pessoal
o quanto ela quiser. O que ela não pode, em um ambiente pretensamente científico,
e sendo uma profissional da área, é desconsiderar e debochar da denúncia
em si. Isso é pseudociência, vinda por parte de quem tem o dever ético se
portar condizentemente). Então, é nesse pé que estamos. Palestra de Fernanda
Landeiro: vídeo palestra essencial a ser conhecido
e estudado, inclusive e principalmente por suas citações a artigos ulteriores.
A seguir
então, os trechos selecionados do capítulo sobre Psicanálise do livro “Que
Bobagem!”, seguidos de minhas reflexões.
“Em princípio,
não há nenhum motivo para que as terapias e os procedimentos que se propõem
a aliviar as dores da mente estejam isentos de passar pelos mesmos procedimentos
de testagem e escrutínio crítico que se aplicam
aos tratamentos propostos para aliviar as aflições do corpo, e também do
dever de dar atenção às armadilhas que levam a conclusões falsas, como associações
espúrias que sugerem relações de causa e efeito e viés de confirmação. Entre
os procedimentos que devem ser seguidos estão a
avaliação crítica das alegações de cura ou benefício terapêutico por meio
de testes controlados, envolvendo número significativo de pacientes, comparação
entre grupos equivalentes e algum grau de cegamento,
seguidos de análise estatística competente e pertinente dos resultados.
Uma psicoterapia pode ser testada estabelecendo-se um objetivo claro (a
superação de fobias, digamos) e comparando-se o progresso de pacientes tratados
de acordo com os preceitos da terapia e os dos que seguem alguma outra abordagem,
ou um tratamento ‘placebo’ (conversas amigáveis com um ator ou outra figura
carismática que faz o papel de “terapeuta” por exemplo)”. (pg 197)
É uma pena
que eu tenha tempo de menos e, também, outros projetos de alta demanda intelectual
(e de grande responsabilidade social) que me impedem de estudar minuciosamente
esse tipo de estudos que MOSTRAM QUE A PSICANÁLISE NÃO FUNCIONA, ou também
que MOSTRAM QUE A PSICANÁLISE FUNCIONA, e igualmente que MOSTRAM QUE TCC
(Terapia Cognitivo Comportamental) É MELHOR QUE PSICANÁLISE PARA AS MAZELAS
A, B ou C (ou mesmo para a Beyoncê), e etc, etc, etc. A possibilidade
de fontes de erro parece imensa. Acho que vou acabar dando uma boa debruçada
nisso para aguçar meu pensamento metodológico. Fiz isso de modo muito intenso
com relação à Parapsicologia no início do século XXI (de 2002 a 2008). Identifiquei
tanto toneladas de problemas em alguns ramos da Parapsicologia em si como
também toneladas de problemas nos “críticos” (o crítico que eu mais detonei
foi o Victor Stenger, citado calorosamente por
Pasternak/Orsi; muitas resenhas minhas em inglês
a diversos livros dele no site da Amazon, e
também no meu site, Criticando Kardec).
“Historicamente,
uma família especial de psicoterapias tem reivindicado passe livre que lhe
permitiria isentar-se da obrigação de conduzir testes; tem afirmado que,
no seu caso, experiência clínica é, sim, prova conclusiva não só de eficácia
terapêutica, mas também da validade e da pertinência de certas teorias metafísicas
que poderiam ser usadas, com poder explicativo, para analisar não apenas
a estrutura e o funcionamento da mente humana, como também da sociedade e
da própria civilização. Essas terapias arrogam-se uma posição privilegiada
na hierarquia do conhecimento clínico, argumentando que suas elaborações
teóricas e práticas clínicas encontram-se fora – de fato, acima – do alcance
das ciências. Essa é a família das chamadas terapias psicodinâmicas, que
habita o universo das ‘curas pela fala’, em que a principal ferramenta terapêutica
é um diálogo, livre ou estruturado (isto é, seguindo etapas e protocolos
preestabelecidos), entre paciente e terapeuta”. (pg
197-198)
Esse é
um ponto que Pasternak e Orsi deveriam ter explicado
melhor. O que está incluído nas terapias psicodinâmicas? É só Psicanálise?
Há outras linhas significativamente diferente da Psicanálise
incluídas nisso? E, posteriormente ao longo do capítulo, quais práticas
de terapia psicológica são criticadas por Pasternak/Orsi e quais são menos criticadas? A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) merece críticas
similares às críticas proferidas contra a Psicanálise? Sim? Não? Por quê?
Como eles vêem o campo (a Crusada, jihadista...? Ou não) da Psicologia Baseada em Evidências
(PBE)? As evidências fornecidas pela PBE são boas, muito boas? Fracas? Enfim,
o trabalho de Pasternak e Orsi foi, em todos
os capítulos que analisei mais minuciosamente (esses todos que estou comentando),
um trabalho basicamente desleixado. Em muitos pontos, inclusive, eles meramente
copiaram e colaram textos deles anteriores (de mais de 10 anos atrás em alguns
casos) que já estavam disponíveis na internet. Ou seja, é a venda do mesmo
peixe podre só que embrulhado em jornal velho diferente... Em todo o caso,
se o leitor (ou se eu...) quiser responder as perguntas que coloco acima,
terá que pesquisar na internet por conta própria. Pasternak e Orsi aparentemente fizeram Questão de não nos dar
Ciência. (Instituto Questão de Não Ciência...). Mas enfim, o trecho acima
de PasterOrsi peca
em dois pontos: primeiro, em não reconhecer a dificuldade muito maior de realizar
tais testagens científicas no campo da Psicologia
nas décadas mais recuadas. E segundo, em não reconhecer os esforços em realizar
de fato tais testagens científicas no campo
da Psicologia e Psicanálise nas décadas mais recentes. Basicamente (ou,
caricaturalmente, de minha parte) o binômio: mentira-mentira.
“Outra obra
acadêmica que se propõe considerar a totalidade da evidência sobre a eficácia
de diversas propostas populares de psicoterapia, The
Great Psychotherapy Debate (O Grande Debate
da Psicoterapia), informa que, quando se consideram os poucos estudos bem
conduzidos que existem sobre as diferentes escolas de psicoterapia, muitas
vezes é possível encontrar algum benefício para o paciente – mas ‘os efeitos
do terapeuta excedem os efeitos do tratamento, que respondem por, no máximo,
1% na variabilidade dos desfechos’.” (pg 199)
Esse livro
citado por Pasternak e Orsi acima é de 2015.
Seria interessante uma atualização nos dados, caso já haja material relevante.
Em todo o caso, parece uma fonte excelente (eu adquiri
ele). Um ponto interessante é que esse 1% parece se referir não especificamente
à Psicanálise, e sim a todos os tratamentos disponíveis no âmbito da Psicologia,
incluindo a mais recentemente badalada TCC. Leva à pergunta: por quê estamos discutindo a cientificidade da Psicanálise?...
“Em outras
palavras, quando a psicoterapia traz benefício, isso aparentemente deriva
mais da pessoa do terapeuta do que da técnica usada ou da teoria que embasa
a técnica. ‘Não existe evidência convincente de que qualquer psicoterapia
em particular, ou ingredientes específicos em geral, sejam cruciais para
produzir os benefícios da psicoterapia.’ .” (pg 199)
Novamente,
toda a Psicologia. Não só a Psicanálise. Qual a importância e pertinência,
então, de um capítulo atacando a Psicanálise?...
“Em termos
de saúde física, seria como se os antibióticos e a teoria dos germes (a
técnica terapêutica e a teoria por trás dela) só funcionassem bem se o médico
(o terapeuta) tivesse características pessoais favoráveis – talvez o jeito
de conversar, a inteligência, a simpatia, capacidade de fazer o paciente
se sentir à vontade, o acolhimento. O que traz duas questões: uma, por que
o antibiótico/técnica/teoria seria necessário, afinal?; outra, qual o dano que um médico antipático/terapeuta
inábil pode causar?” (pg 199)
Esse comentário
acima dos autores é interessante: a comparação inicial, a conclusão parcial
a seguir, e as perguntas ao fim. Fico um pouco, digamos, espantado, ou surpreso,
que, sendo Pasternak uma microbiologista (assim como eu, só que ela é muitíssimo
mais “graduada” do que eu...), ela não perceba, na tentativa de comparação
que ela faz, a diferença entre o “antibiótico”
e a “linha teórica do psicoterapeuta” na interação com o paciente. *Antibiótico_INTERAGINDO_com_o_paciente*
não é uma boa comparação com *linha_teórica_do_psicoterapeuta_INTERAGINDO_com_o_paciente*.
Isso, em parte, porque no caso das psicoterapias o “antibiótico” é o próprio
terapeuta! Uma comparação médica melhor talvez fosse: toxinas não específicas
(mas similares entre si) sendo introduzidas no corpo do terapeuta (vacinação)
levando o terapeuta a produzir anticorpos não específicos (mas similares
entre si) e então terapeuta interagindo com paciente lhe passando tais anticorpos
(soroterapia não específica, não monoclonal) para atuar em sua doença específica
com um certo grau de sucesso. Na comparação que
criei na frase anterior, o paciente teria sido anteriormente contaminado
por toxina similar às que foram introduzidas no terapeuta para o terapeuta
posteriormente produzir anticorpos (isso é o que ocorre na soroterapia para
combater efeito de mordida de cobra venenosa, sendo que tal soro é obtido
pela introdução da toxina em cavalos. No meu exemplo o terapeuta seria um...
Cavalo. Se lembrarmos que “cavalo” é o termo usado para designar, em algumas religiões afro brasileiras, a pessoa que recebe
a entidade sobrenatural, nossos psicoterapeutas seriam talvez equiparáveis
a Pretos Velhos ou Exus Caveira... Sem dúvida curiosa conclusão comparativa!).
Seria como se um determinado modelo teórico de intervenção psicoterapêutica
(por exemplo, TCC, ou Psicanálise, ou etc) levasse
o cérebro do terapeuta a desenvolver um arsenal não muito específico de mecanismos
de entendimento e de atuação sobre o paciente, e daí conseguisse se capacitar
para um certo grau de sucesso na atuação sobre
a mazela específica do paciente. Pasternak e Orsi
precisam refletir melhor sobre os dados que eles próprios possuem e apresentam.
Estão deixando escapar rios de riqueza por entre seus dedos...
“Uma pesquisa
conduzida na Inglaterra e no País de Gales, publicada em 2016, envolvendo
quase 15 mil pessoas, determinou que pouco mais de 5% relataram efeitos
negativos duradouros de processos psicoterápicos. Esses efeitos deletérios
mostraram-se mais comuns em membros de minorias étnicas e sexuais. A maioria
das pessoas que informou sofrer com maus resultados não soube dizer com
certeza que tipo de psicoterapia havia recebido.7
Outras estimativas sobre a fração de pacientes que sai da terapia pior do
que entrou chegam a 10%. O potencial de causar dano é amplificado pelo uso
de técnicas terapêuticas sem base em estudos científicos adequados.” (pg 199-200)
Vejam. Pasternak
e Orsi afirmam que “O potencial de causar dano
é amplificado pelo uso de técnicas terapêuticas *sem base em estudos científicos
adequados*”. Mas logo anteriormente eles haviam asseverado,
baseados em obra abalizada, que não há diferença clara entre a eficácia
dos diferentes tratamentos! Ou seja, eles estão trazendo dados que conflitam
entre si e aparentemente nem estão percebendo isso. Ou pior, estão percebendo,
mas decidiram manipular o conjunto todo indevidamente na direção de condenar
apenas a Psicanálise. O nome disso é um de dois: ou desleixo analítico, ou
desonestidade intelectual. Ou mais provavelmente uma mistura muito esquisita
de ambos...
“Em outro
livro, Witkowski adverte para a necessidade
de separar as terapias baseadas em evidências das que ele chama de ‘experimentos
descontrolados em humanos’, categoria em que inclui a família da psicanálise.
Escreve ele que ‘a primeira questão, absolutamente fundamental e que deve
ser esclarecida antes de submeter-se a qualquer tipo de psicoterapia’ é
a de se existem resultados de pesquisas científicas, conduzidas de acordo
com boas práticas (incluindo comparações válidas entre grupos e pacientes),
que confirmem a efetividade do método. ‘Se o terapeuta se mostrar indisposto
ou incapaz de responder a essa questão, procure outro’.” (pg 200)
Novamente
o malabarismo com as fontes conflitantes sendo tratadas como concordando
umas com as outras... Ao invés do exposto acima, o que de fato parece ser
a verdade atual é que não há diferenças detectáveis entre coisas como a
TCC e a Psicanálise, por exemplo, e há grandes chances de a tal PBE (Psicologia
Baseada em Evidências) ser mera balela oportunista mal alinhavada. A Sociedade
precisa abrir o olho...
“A ideia de que propostas psicoterapêuticas – ao menos,
as que não envolvem o uso de fármacos – deveriam ser avaliadas por regras
diferentes das que regem as ciências da saúde em geral deriva, em parte,
da velha concepção filosófico-religiosa de uma quebra radical entre mente/espírito
e corpo, sendo que a mente, constituindo o domínio da alma, operaria por
regras próprias, metafísicas (isto é, ‘para além da física’). Esse dualismo
extremo, no entanto, não se sustenta mais, frente aos avanços e descobertas
da neurociência nos últimos dois séculos.” (pg
201)
Dois pontos:
o tal do dualismo extremo ainda se sustenta. Tão bem (e/ou tão mal...) quanto
sempre foi. Ponto. Segundo, esse não é a fonte da recusa de alguns (ou de
quase todos talvez... Não sei de fato. Mas não de todos!) psicanalistas
em rejeitar as “regras que regem as ciências da saúde em geral”. A recusa
deles se deve justamente à dificuldade em se utilizar tais regras. Se Pasternak
e Orsi tivessem lido o excelente livro que sugeriram
mais acima (e que implicitamente alegaram, falsamente, ter lido), eles entenderiam
esse ponto (The Great Psychotherapy
Debate - O Grande Debate da Psicoterapia, ano 2015).
“Isso não
significa, claro, que o estudo da psiquê não
precise de conceitos e instrumentos próprios, mas sim que esses instrumentos
e conceitos não estão além dos princípios e das regras mais fundamentais das
ciências físicas, biológicas e da saúde, e nem podem contradizê-los.” (pg 201)
Nesse ponto
acima, Pasternak e Orsi demonstram grande fraqueza
intelectual no entendimento do processo científico e na Filosofia da Ciência.
Instrumentos e conceitos em cada ramo específico da Ciência podem sim ser, em grande medida, contraditórios uns com os outros,
e estarem reciprocamente “além” uns dos outros. A Natureza não cabe no “sapatinho
pé-de-lótus” que Pasternak adquiriu em suas andanças
profissionais pela China...
“Outra poderosa
motivação para que se tente isentar a psicoterapia das obrigações científicas
mais elementares é o enorme sucesso de público que as teorias psicanalíticas
de Sigmund Freud obteve entre a intelectualidade
europeia e norte-americana, principalmente entre
as décadas de 1930 e 1970, quando passou a ser chique usar ideias derivadas
dos trabalhos de Freud e de seus discípulos-hereges mais famosos (entre eles,
Carl Jung, Wilhelm Reich, Jacques Lacan) como
chave interpretativa em campos em campos tão díspares quanto história, literatura,
arte, sociologia e filosofia.” (pg 201)
Insights
e percepções intelectuais originárias em qualquer campo científico podem
e devem (com sabedoria e cautela) ser usadas como “chave interpretativa”
para diversos outros campos da Ciência. Isso é multidisciplinaridade, transdisciplinaridade, ou mesmo mera excelência erudita.
Pasternak e Orsi estão procurando cabelo em sovaco
de cobra...
“As doutrinas
psicodinâmicas em geral, e a psicanálise em particular, dependem crucialmente
– tanto como terapia quanto como ‘chave’ de leitura social ou cultural –,
de que se leve muito a sério uma alegação que é insustentável tanto do ponto
de vista lógico quanto da evidência empírica: a da existência do chamado
inconsciente psicodinâmico. Esse inconsciente – que já foi comparado a uma
‘mente paralela’ ou ‘calabouço’ – seria um repositório para onde a mente
baniria os desejos inconfessáveis, pensamentos vergonhosos, impulsos inomináveis,
motivações pérfidas, memórias indizíveis e, dependendo da corrente teórica
a que se adere, um monte de outras coisas.” (pg 204)
Para Pasternak
e Orsi, a existência de qualquer tipo de inconsciente
dinâmico é *insustentável* em termos lógicos e em termos de evidência
empírica. Eles acham que o inconsciente não é... dinâmico.
Seria o quê, então? Estático? É por isso que, se alguém se aventura em área
sobre a qual não conhece nada, é necessário, antes, estudar muito. Para não dizer... Bobagem!®. O inconsciente (ou melhor,
uma variedade de processos cerebrais considerados “inconscientes”) existe.
Ele possui dinamismo (atividade), interatividade, e possui também estrutura
em diversos aspectos. O que de fato é questionável é se as ideias e proposições
vindas da Psicanálise a respeito de como esse inconsciente se comporta e
a respeito de como ele se estrutura são ideias e proposições mais ou menos
válidas. No trecho acima de Pasternak e Orsi
eles poderiam, e deveriam (se não tivessem se proposto a fazer um trabalho
desleixado), ter explicado melhor como é a visão
da Psicanálise a respeito do inconsciente, ao invés de escolher alguns itens a esmo e se limitar a ficar dando chute nesses itens,
inclusive os descrevendo de modo incorreto. Na verdade a descrição e ideia da Psicanálise a respeito do inconsciente é
apenas uma dentre uma grande variedade de ideias e descrições concorrentes,
vindas de diversos outros campos do saber humano, tanto de Ciências mais
ou menos estabelecidas, como de campos menos estritamente “científicos” (como
diversas correntes místicas e religiosas mediúnicas ou onde ocorra fenômenos de transe e similares, etc). A riqueza desse campo é imensa. A ignorância
de Pasternak e Orsi é assombrosa.
“Ainda que
a pesquisa de Freud não fosse, como é, toda baseada em fraudes, fabricações
e distorções – a bibliografia a respeito é abundante, sendo a obra de Frederick
Crews um ótimo ponto de partida –, seus resultados
não seriam fortes o bastante para estabelecer o que se alega: mesmo nos melhores
momentos, a razão entre dado empírico e especulação pura, tanto em Freud
quanto em seus sucessores, é baixíssima.” (pg
205)
Veja, isso acima
é uma coisa que, de fato, parece insustentável. Os autores (eles mesmos!
Do alto de sua monumental ignorância sobre o assunto) estão afirmando que
TODA a pesquisa de Freud foi fraudulenta (fraude, fabricação, distorção).
Toda. Toda. Vou repetir mais uma vez: Toda. Sinceramente, se toda a pesquisa
e todo o trabalho de Freud é baseado em fraude,
então o cara é o maior gênio de toda a História da humanidade. É literalmente
impossível alguém conseguir fazer tudo baseado em fraude (se bem que esse
livro de Pasternak e Orsi esteja me levando a
questionar essa sabedoria que já nutro há mais de quatro décadas...).
“A liberação
para pesquisadores, a partir do último quarto do século passado, da totalidade
da correspondência, sem censura, entre Freud e seu amigo Wilhelm Fliess, além das
cartas trocadas pelo jovem Freud com a noiva e futura esposa Martha Bernays,
revelou um grau espantoso de mentira e distorção separando o que realmente
acontecia no consultório e as famosas ‘notas de caso’ publicadas pelo pai
da psicanálise e que fizeram sua fama.” (pg
206)
Esse tipo
de coisa acima é riquíssimo de ser investigado. Mas sem Bobagens. ®$$$.
Sem infantilidade. Sem desonestidade escondendo segundas intenções, intenções
essas ou financeiras ou de ganho indevido de prestígio.
“Em seu
tratado sobre fraude científica, The Great Betrayal (A Grande Traição), o historiador Horace Freeland Judson resume da seguinte maneira o conjunto da evidência
histórica sobre a atuação de Sigmund Freud e as raízes da psicanálise: ‘Os
casos de Freud são imposturas do início ao fim’.” (pg
207)
Novamente
a credibilidade do crítico caindo na vala devido ao exagero “totalista”. Termos “totalistas”
precisam ser evitados ao máximo em Ciência (e tais termos, quando usados,
normalmente demonstram que aquele que os usa não domina devidamente os processos
de reflexão verdadeiramente científica). É assim: Sempre e Nunca são dois
termos que devemos sempre lembrar de nunca usar.
E melhor ainda seria dizer: *quase* nunca usar. Nem os piores crápulas
maquiavélicos conseguiriam construir casos que se constituíssem em impostura
do início ao fim. (ou, dizendo de modo científico: a probabilidade de que
mesmo crápulas maquiavélicos conseguissem produzir casos que fossem imposturas
do início ao fim parece ser baixíssima). Pasternak e Orsi são demasiado falhos, ou deliberadamente desleixados,
no uso da reflexão científica verdadeira. E endossam pesquisadores, pensadores,
e pesquisas igualmente falhos.
“A influência
do terapeuta, de suas inclinações teóricas, opiniões políticas e preconceitos
pessoais sobre os conteúdos e conclusões gerados ‘de modo espontâneo’ pelo
paciente é sistematicamente subestimada no universo psicanalítico, mas aparece
quando estudos imparciais são conduzidos.” (pg
209)
Desconfio,
naturalmente, da imparcialidade de tais estudos imparciais. Imparcialidade
provavelmente é algo que não existe. Ainda assim, tendo a concordar de modo
relativamente forte com a afirmação de Pasternak e Orsi
acima. Teorias a respeito do funcionamento da mente podem levar a mente a
se comportar do modo esperado pela teoria, de modo não espontâneo. Isso vale
para a Psicanálise, TCC, Umbanda, Candomblé, Xamanismo
Amazônico, Estado de Graça Católico Apostólico Romano, etc. Assim penso eu.
Preciso estudar imensamente mais para de fato abraçar tal visão. Mas, do
pouco que já estudei, e de minha experiência pessoal, inclusive no âmbito
do tratamento psicanalítico pelo que passei e da minha experiência com meus
sonhos lúcidos, e... principalmente dos insumos
do livro Immortal Remains
de Stephen Braude, essa é a visão que atualmente
tenho sobre esse variadíssimo feixe de pensamentos
inconscientes que perambulariam por nosso cérebro e mente. (a propósito:
considero o uso do termo “inconsciente” ou “processos inconscientes” como altamente errado. Mas isso é outra
história...)
“Em 1994,
um tribunal no estado da Califórnia, Estados Unidos, concedeu uma indenização
de US$ 500 mil a um pai falsamente acusado de abusar sexualmente da filha,
depois que uma terapeuta ‘recuperou’ memórias supostamente reprimidas da
infância da paciente, então com 23 anos, que se encontrava em tratamento psicoterapêutico
para depressão e transtorno alimentar.” (...) “Os casos da Califórnia e de Mack são extremos e não representam o processo normal
de psicanálise – a terapeuta californiana havia aplicado à sua paciente uma
droga do tipo popularmente conhecido como ‘soro da verdade’ (amital sódico), e o psiquiatra de Harvard hipnotizara
alguns de seus ‘abduzidos’ –, mas exemplificam os riscos de levar a sério,
num contexto terapêutico, fantasias expressas como ‘conteúdo inconsciente’.”
(pg 210-211)
Esses exemplos
acima são extremíssimos, mas não são oriundos
do universo psicanalítico. Parternak e Orsi em parte alertam para esse ponto. Mas deveriam
ter deixado mais claro, dizendo claramente que não houve psicanalistas envolvidos
nos casos acima, e que, por outro lado, houve o envolvimento de pessoas ligadas
àquilo que é considerado como “Ciência normal e estabelecida”, a Psiquiatria.
“A relação
entre os processos inconscientes reais, como detectados e descritos pela
psicologia científica e pela neurociência, e o inconsciente psicanalítico,
fantasmagórico, é apenas metafórica – uma coincidência de nome. Em termos
conceituais, a diferença fundamental está na insistência psicanalítica na
quimera do conteúdo reprimido, entendido como material rejeitado, maldito
(memórias traumáticas, desejos vergonhosos, símbolos ancestrais) estocadas
em algum ponto inacessível (exceto pela intervenção do terapeuta), que nos
manipula das trevas, causa sintomas mentais e emocionais e cujo “resgate”
traz saúde mental.” (pg 214)
Pois é,
imagino que, sim, que haja muito exagero teórico dentro da Psicanálise nesses
pontos, e que haja muitos equívocos também. Se Pasternak e Orsi tivessem feito um trabalho mais confiável e de
fato fidedigno (e mais pleno, ou pelo menos mais farto) quanto à descrição
das teorias psicanalíticas do inconsciente, poderíamos refletir muito melhor
sobre possíveis problemas dessas teorias. Mas do jeito porco que foi feito,
fica difícil tentar separa o joio do trigo. Mas não me parece que haja mera
coincidência de nomes. Imagino que, muito ao contrário disso, diversas “teorias”
sobre a mente e seu funcionamento consciente e “inconsciente” possuam paralelos
nas modernas descobertas da neurociência. Mas há que haver trabalhos de
divulgação científica sérios e honestos para
apresentar isso. Não Que Bobagem! ®$$$
“Do ponto
de vista dos estudos modernos sobre o funcionamento da memória, todo o conceito
de repressão é problemático (E. F. Loftus, The Myth of Repressed Memory, New York, St. Martin’s Press, 1994).
Primeiro, porque sabemos que as memórias não são exatamente registradas,
como arquivos num hard-drive, mas reconstruídas
cada vez que as evocamos – e muitas dessas reconstruções incluem interferências
de outras memórias, ou mesmo da imaginação, o que pode ser especialmente
verdade no caso de eventos traumáticos. O ex-presidente dos EUA, George W.
Bush, por exemplo, desenvolveu falsas lembranças sobre onde estava quando
recebeu a notícia dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.” (pg 214)
Pasternak
nem parece ser uma bióloga... Acho que ela e Orsi
resolveram virar CTC (coach de tudo que é coisa).
Repressão e compartimentalização são realidades
imensamente ubíquas no âmbito da Biologia. Por quê
esperar que isso não se daria na mente humana também? Loftus me parece ser uma pesquisadora muito perspicaz,
além de altamente renomada. Mas já confiar na leitura que Pasternak e Orsi fizeram do livro dela, isso são outros quinhentos...
E, o livro tem já trinta anos (ok, 29 anos). Sinceramente. Mas uma coisa
em especial chama a atenção de modo assombroso: o modo acrítico como Pasternak
e Orsi relatam a
alegada “falsa memória” de Bush. Curioso o que eles consideram como evidência
que pode ser passada adiante sem o menor filtro reflexivo! Bush é um monstro
sanguinário genocida que, junto de Tony Blair, levou à morte provavelmente
mais de um milhão de iraquianos na Segunda Guerra do Golfo sem nenhuma base
real para tal guerra além de suas mentiras quanto a armas que o Iraque não
tinha e que a própria ONU estava sinalizando ser uma informação falsa. Francamente,
onde Pasternak e Orsi estão com a cabeça...?!
“Além disso,
pacientes de estresse pós-traumático (PTSD) sofrem com lembranças intrusivas,
memórias indesejadas e flashbacks dos eventos que os traumatizaram – seus
problemas psicológicos são causados não por memórias que perderam, mas por
lembranças de que não conseguem se livrar”. (pg
214)
Que Deus
livre esse casalzinho fofolete de qualquer trauma
físico ou mental mais forte, pois que não há dúvida que jamais passaram
por isso. Mas que o Diabo os impeça de falar sobre o que desconhecem. Essas
memórias às quais eles se referem acima, a mente tenta desesperadamente
reprimi-las e/ou elaborá-las (por “elaborar” quero dizer transformar a memória
em algo com uma inserção diferente na dinâmica mais geral da mente, uma
inserção com uma “ressignificação” ou com uma
reestruturação mais construtiva ou, pelo menos, menos dolorosa. O termo
mais adequado nem seria menos dolorosa, mas menos lancinante). Só quem já
viu a própria mente tentando desesperadamente fazer isso pode entender.
Pasternak e Orsi vivem em mundo alheio a isso,
vivem em um mundo fofo. Bom pra eles. Ruim pra nós.
Considerações
Finais sobre as Condenações à Psicanálise: todo esse conjunto de Bobagens!®$$$
excretadas pelo casal Pasternak/Orsi no capítulo
sobre Psicanálise acabou me levando a ler um pouco
mais sobre o assunto, incluindo adquirir o livro The
Great Psychotherapy Debate (O Grande Debate
da Psicoterapia, do ano 2015), o qual pude consultar e ler alguns trechos
sem dúvida reveladores. As pesquisas sobre o efeito das diversas psicoterapias
se baseiam em estudos que são de confiabilidade muito questionável (a meu
ver. Em alguns pontos, o autor/autores do livro O Grande Debate apontam claramente
fatos que me parecem embasar isso). Isso não por incompetência dos pesquisadores,
mas pelo caráter altamente “escorregadio” e quase insondável do fenômeno
mental humano, especialmente em seus aspectos considerados patológicos. O
tamanho, ou força, dos efeitos, se existirem de fato (ou seja, as melhoras
dos pacientes que sejam devidas à linha teórica adotada pelo psicoterapeuta,
linha psicanalítica, linha “TTCística”,
linha “PBEsta”, etc),
parece ser muito pequeno. Falam de algo de talvez 1% de efeito, ou menos,
vindo por conta da linha adotada, independentemente de ser Psicanálise ou
TTC, por exemplo. Refuta-se no livro, inclusive, até a noção de que TTC de
fato tenha algum efeito. E com um efeito, se houver,
tão pequeno, seria necessário estudos de imensa qualidade para de fato identificar
tanto a presença ou não de tal efeito, quanto sua real dimensão (tipo, 0,8%,
ou 0,4%). Essa situação já vem sendo identificada deste modo desde pelo
menos 1940! Apesar do livro “O Grande Debate” já possuir alguns anos (é de
2015), dificilmente novos estudos conseguiriam, de modo firmemente seguro,
resolver essa pendenga já agora, validando uma corrente psicológica ou refutando
alguma outra corrente psicológica. Além disso, tais estudos dependem fortemente
de meta-análises, que são estratégias estatísticas
imensamente problemáticas, e que são sujeitas a manipulações não muito honestas...
(apesar do que tais manipulações têm como ser identificadas; o que não quer
dizer que a comunidade científica necessariamente se importe com isso...
Haja vista a meta-análise que o psicólogo Ray Hyman
fez dos estudos Ganzfeld em Parapsicologia,
e a conivência dos meios científicos com a mutreta
que ele perpetrou). [ATENÇÃO, ERRO GRAVE MEU: não foi Ray Hyman, e sim um
membro do CSICOP um tanto quanto mais jovem, Richard Wiseman, junto com Julie Milton, em 1999. Essa correção
que estou inserindo foi feita depois desse meu artigo ter sido inicialmente
divulgado por mim, e por isso mantenho o erro
e alerto para a correção]. Alguns cientistas como aquele que Pasternak exaltou
(citou, melhor dizendo), Victor Stenger, são
veementemente contrários a meta-análises como
maneira de se estabelecer algo em Ciência, e essa é uma posição muito adotada
pelos cientistas ateu-materialistas cético militantes
(incluindo o povo do CSICOP/CSI, instituição pseudocética
estadunidense à qual Pasternak pertence) contra estudos da área da Parapsicologia.
Eles chegam a alegar que não há nenhum fato científico que jamais tenha
sido estabelecido através de meta-análises.
Meta-análises serviriam
para apontar a direção mais promissora de pesquisa e para apontar teorias
mais promissoras. Não serviriam para definir o que é e o que não é verdade
(nem mesmo verdade provisória). Em meio a toda essa confusão, me parece
sim válido considerarmos, provisoriamente, que não haja diferença identificada
entre linhas de tratamento psicológicos. Mas
há, ao que parece, coisas que de fato têm um efeito
mais real e mensurável. Uma delas, curiosamente, é a dedicação do psicoterapeuta
à linha que ele escolheu, e o quanto ele acredita na linha escolhida. Uma outra é a confiança do paciente no terapeuta. Esses
dois pontos são bem ressaltados no livro “O Grande Debate”, e vem também
já de longas décadas sendo reconhecidos como importantes.
O Resumo
macabro é um só: ao condenarem a Psicanálise, pessoas como a microbiologista
Natália Pasternak, o jornalista Carlos Orsi,
o psicólogo Daniel Gontijo (do IPA+), o psicólogo Clarisse Ferreira (do IPA+),
e a psicóloga Fernanda Landeiro (do IPA+), e
tantos outros, parecem seguramente estar cometendo uma violência brutal
contra os tratamentos psicológicos, pois que eles enfraquecem justamente
as duas únicas coisas que foram demonstradas como provavelmente tendo efeito
real e válido, ou seja, a confiança e dedicação do terapeuta à sua linha
de atuação, e a confiança do paciente em seu terapeuta. Esse tem sido talvez
o único efeito prático real desse sinistro grupo sobre nossa sociedade. Tenebroso.
Igualmente, todo o alvoroço a respeito de supostas Psicologias
Baseadas em Evidências (PBE) parece ser altamente enganoso, e provavelmente
equivocado. Sem dúvida não se trata de uma postura científica com a devida
honestidade intelectual (e nisso me refiro aos “PBEstas” com os quais tive contato), haja vista
que propagam apenas um lado da história, e omitem os dados contestatórios
que listei acima, vindo inclusive de obras de grande respeitabilidade na
área. De fato passa a fazer mais sentido as estranhas
e fartas falhas na palestra do psicólogo Clarisse Ferreira no IPA+, bem
como o sintomático deslize da psicóloga Fernanda Landeiro
em sua palestra no IPA+ também. Já Pasternak e Orsi,
e também Daniel Gontijo, me parecem mais desinformados mesmo. Sendo que
os dois primeiros são, como eu, papagaios de pirata nessa história toda.
E papagaios de pirata têm que relatar tudo que sabem, e deixar claro para
quem os lê os limites de seus conhecimentos. Só aí são dignos de confiança.
Até porque, se e quando forem confrontados com dados contrários, têm que
ser os primeiros a anunciar tais dados contrários aos sete ventos, em clara
honestidade intelectual. Isso é o que eu tento ao máximo fazer, consistentemente,
já ao longo de mais de vinte anos. Já Pasternak e Orsi
parecem estar mais no ramo de vender o mesmo peixe podre a cada dez anos...
Incluirei
abaixo, sem tradução e quase sem comentários, trechos que me pareceram bem
informativos do livro O Grande Debate da Psicoterapia (tradução livre do
título), The Great Psychotherapy
Debate (Counseling and
Psychotherapy), Oxford, Taylor and Francis, 2015; autores: Bruce E. Wampold e Zac E. Imel.
Conclusions:
The essence of therapy is embodied in the therapist. Previously, we have
seen that the particular treatment that the therapist delivers does not affect
outcomes to a significant degree but that allegiance to the therapy was
important. The results of the literature reviewed here are clear. Although
some studies can be found that demonstrate therapist homogeneity, the preponderance
of the evidence indicates that there are important therapist effects (in
the range of 3 percent to 7 percent of the variability in outcomes accounted
for by therapists, with substantial variability around these estimates).
Therapist effects generally exceed treatment effects, which at most account
for one percent of the variability in outcomes (see Chapter 5 ), as predicted by the Contextual Model. In addition,
ignoring therapist effects inflates estimates of treatment effects, which
suggests that importance of differences between treatments is inflated, making
the importance of therapists relatively greater. Now that we have reviewed
evidence that supports the notion that some therapists consistently achieve
better outcomes than others, despite the treatment provided, an important
question results: What are the characteristics and actions of effective therapists?
This question will be addressed in Chapters 7 and 8 .
pg 176
Allegiance
refers to the degree to which the therapist or researcher believes that the
therapy is efficacious.
pg 120
*Comentário
meu*: os termos *adherence*
e *allegiance* parecem ser usados
no sentido definido acima, ou seja, o grau de confiança que o terapeuta
deposita na linha teórico/prática que ele adota. Já o termo *alliance* parece ser usado com relação à
confiança do paciente no terapeuta, e da ligação entre eles, não devendo
ser confundido, contudo, com um outro termo,
*transference* (transferência),
muito usado na Psicanálise.
Conclusions:
Rosenzweig (1936) speculated, “All methods of
therapy when competently used are equally successful” (p. 413). In the 1970s
and 1980s, the evidence from initial meta-analyses were
consistent with Rosenzweig’s conjecture. In
the next 30 years, exemplary studies and methodologically sound meta-analyses
unfailingly produced evidence that demonstrated that there were small, if
not zero, differences among treatments. This result generalized to the subpopulations
of treatments for depression and anxiety, two areas where behaviorally oriented
treatments are thought to be particularly appropriate and superior to alternatives.
Claims that specific cognitive-behavioral therapies are more effective than
bona fide comparisons are common but overblown and in need of additional
testing. The Dodo bird conjecture has survived many tests and must be considered
“true” until such time as sufficient evidence for its rejection is produced.
The lack of differences among a variety of treatments casts doubt on the
hypothesis that specific ingredients are responsible for the benefits of
psychotherapy. One would expect that if specific ingredients were indeed
remedial, then some of these ingredients would be relatively more beneficial
than others. Uniform efficacy of treatments represents the first evidence
that the Medical Model cannot explain the empirical findings in psychotherapy
research.
pg 156
For example,
the therapeutic alliance, a common factor that has been shown to have potent
beneficial effects (see Chapter 7 ), is sometimes
denigrated by referring to the effects it produces as nonspecific effects
or placebo effects.
pg 42
Studies
of psychotherapy process often examine the correlation between some process
variable and outcome; for example, the correlation of the alliance between
the therapist and the client and outcome (see Chapter 7 ) or the correlation of therapist adherence or competence
and outcome (see Chapter 8 ). These correlations can be aggregated across
studies in a fashion similar to what is done for between group effects,
creating an aggregate estimate of the population correlation coefficient
as well as its standard error (Shadish &
Haddock, 2009).
pg 69
Working
Alliance: The concept of the alliance between therapist and client originated
in the psychoanalytic tradition and was conceptualized as the healthy, affectionate,
and trusting feelings toward the therapist, as differentiated from the neurotic
component (i.e., transference) of the relationship.
pg 179
The evidence
for the alliance-outcome association appears to be robust.
pg 179
The qualities
of the therapist that lead to beneficial outcomes have been of interest
to psychotherapy researchers and clinicians since the origins of the field.
It seems intuitive that some characteristics or actions of therapists would
be more desirable than others and that, consequently, some therapists would
be more effective with clients than others. In this regard, therapists are
similar to other professionals, as some lawyers win more cases than others,
some artists create more memorable and creative sculptures than others, and
some teachers facilitate greater student achievement than others.
Pg 158
*Comentário
meu*: o termo *competence*
(competência; no caso grau de competência do terapeuta) parece ser definido
como a taxa de sucesso do tratamento.
As discussed
in Chapter 2 , adherence refers “to the extent
to which a therapist used interventions and approaches prescribed by the
treatment manual, and avoided the use of interventions procedures proscribed
by the manual” (Waltz, Addis, Koerner, &
Jacobson, 1993, p. 620). Even though the Medical Model requires adherence
to the protocol and predicts that adherence is necessary for the benefits
of the treatment, the Contextual Model also requires the delivery of ingredients
consistent with the rationale for treatment provided to the client. However,
the Contextual Model clearly is less dogmatic about the ingredients and certainly
allows eclecticism, so long as there is a rationale
that underlies the treatment and that the rationale is cogent, coherent,
and psychologically based.
Pg 234
*Comentário
meu*: pelo que eu entendi, há dois modelos analisados no livro, o Modelo
Médico (Medical Model), e o Modelo Contextual
(Contextual Model). Segundo o Modelo Médico,
o tratamento psicoterápico seria como que uma droga, como um antibiótico,
um antiinflamatório, etc. Nesse caso, o “antibiótico” seria a linha teórico/prática
adotada (ou pelo menos seria *principalmente* a linha adotada) pelo
terapeuta (Psicanálise, TCC, etc). É nesse modelo
que se espera encontrar diferença na qualidade dos diversos tratamentos.
Já o Modelo Contextual levaria a uma expectativa de que há um conjunto maior
e não bem identificado de fatores no tratamento levando à cura ou à melhora
do paciente. Por esse modelo não seria tão esperado identificar diferença
nas qualidades de linhas diferentes, e seria mais esperado encontrar diferenças
de sucesso entre diferentes terapeutas independentemente da linha adotada.
The Medical
Model predicts that adherence to a treatment protocol of an evidence-based
treatment and the competence with which the therapist delivers the treatment
should be related to outcome. Measurement of therapist adherence and competence
is problematic because characteristics and actions of patients influence
how adherent and competent the therapist appears; for example, therapists
will appear less competent when working with patients who are interpersonally
aggressive. Moreover, there is variability in adherence and competence across
sessions within the same patient. A meta-analysis of adherence and competence
revealed that ratings of these two variables and outcomes were small and
generally non-significant (Webb et al., 2010).
Pg 253
Researchers
have made a concerted effort to establish the importance of specific ingredients
of psychotherapy. As reviewed in this chapter, there is no compelling evidence
that the specific ingredients of any particular psychotherapy or specific
ingredients in general are critical to producing the benefits of psychotherapy.
Pg 253
Em Tempo,
ainda sobre Psicanálise...: duas coisas ainda gostaria de ressaltar.
Um ponto que seria importante que Pasternak e Orsi
tivessem abordado seria que tipo de controle social existe sobre a atuação
dos psicanalistas. Com relação à Homeopatia, é necessário ser médico para
ser homeopata. Na Psicanálise a coisa é, digamos,
mais complexa. A mim parece haver um grau de controle pelo menos razoável.
Em todo o caso é um ponto importante a ser abordado com profundidade e seriedade
por parte de quem se propõe a falar sobre essa área terapêutica humana...
Bola fora, novamente, para Pasternak e Orsi. Deixo
apenas, então, dois links que localizei em busca breve sobre o assunto, para
um início de informação a respeito desse ponto:
https://www.psicanaliseclinica.com/quem-pode-exercer-profissao-de-psicanalista/
https://www.cobrpsi.org/cbo-2515-50
E o segundo
ponto que eu queria ressaltar é uma breve reflexão a respeito da eficácia,
ou não, das psicoterapias (todas elas), à luz dos breves trechos que colhi
no livro The Great Psychotherapy
Debate. Há, conforme descrito no livro, um paradoxo estranho. Por um lado,
não há diferença se houver o uso de, digamos, TCC ou Psicanálise. Por outro
lado, há diferença se o psicoterapeuta acreditar e se dedicar à sua linha
de atuação escolhida. Como entender uma situação dessas? Claro, é importante
frisar: isso só se refere às linhas de tratamento que tenham sido analisadas
nesses estudos. Talvez alguma linha de atendimento que não tenha sido analisada
nesse estudo não apresente essa característica (ou seja, mesmo se o terapeuta
se dedicar com afinco ao estudo e prática dessa outra linha, talvez não
haja diferença no resultado do tratamento). Mas, com relação às linhas analisadas:
a mim parece que ocorre algo similar ao que me parece ocorrer na Educação
(de crianças e adolescentes; atuo profissionalmente dando aula de inglês
no Município do Rio de Janeiro, desde 1999). Várias linhas diferentes parecem
conseguir sucesso. Mas o “segredo” (se é que existe segredo) parece ser
a confiança do professor no método, e seu empenho em seguir a linha que
escolheu. Ambos os casos se tratam de interação de mente humana com mente
humana. E nós, humanos, já estamos nesse “negócio” há centenas de milhares
de anos. Aliás, especialmente nos ramos de Educação e Cura... Isso não é
pouca coisa (essas centenas de milhares de anos, em termos de tempo evolutivo,
neste caso), e provavelmente estamos subestimando imensamente o potencial
disso. Quando um aspirante a terapeuta, ou um já terapeuta, se debruça sobre
um corpo teórico que tenta entender o funcionamento da mente humana, ele
está lidando com um material que foi construído por outras
mentes humanas anteriores (Freud e tantos outros) refletindo e interagindo
com mentes humanas (inclusive as próprias mentes). Nesse processo, talvez
basicamente o terapeuta potencialize muito aquilo que, a princípio, todos
já trazemos: a capacidade de atuarmos com grande eficácia na cura de nós
mesmos e na cura de outros.
A mim não
resta dúvida que esse foi o ponto onde Pasternak e Orsi
mais comeram mosca em toda essa questão. Não se enganem, casal Orsi: os antibióticos, nesse caso, definitivamente
somos nós!
A SEGUIR,
E AINDA POR ESCREVER, CAPÍTULO SOBRE PARANORMALIDADE E TAMBÉM PODER QUÂNTICO
E PENSAMENTO POSITIVO E EPÍLOGO.