Revue Spirite - ano de 1869 - páginas 98 a 108
Profissão de Fé Espírita Americana.
Nós reproduzimos, segundo o Salut da Nova-Orléans, a declaração de princípios decretada na quinta convenção nacional, ou assembléia dos delegados espíritas das diferentes partes dos Estados Unidos. A comparação das crenças, sobre essas matérias, entre o que se chama a escola americana e a escola européia, é uma coisa de grande importância, assim como cada um poderá disto convencer-se.
Declaração de princípios.
O espiritualismo nos ensina:
1. Que o homem tem uma natureza espiritual tão bem quanto uma natureza corpórea; ou antes, que o homem verdadeiro é um Espírito, tendo uma forma orgânica, composta de materiais sublimados, que representa uma estrutura correspondente à do corpo material.
2. Que o homem, como Espírito, é imortal. Tendo reconhecido que sobrevive a essa mudança chamada a morte, pode-se racionalmente supor que ele sobreviverá a todas as vicissitudes futuras.
3. Que há um mundo, ou estado espiritual, com suas realidades substanciais, objetivastão bem quanto subjetivas.
4. Que o processo da morte física não transforma de nenhuma maneira essencial a constituição mental ou o caráter moral daquele que a sente, porque se isto fosse de outro modo, sua identidade seria destruída.
5. Que a felicidade ou a infelicidade, tão bem no estado espiritual quanto neste, não depende de um decreto arbitrário ou de uma lei especial, mas muito do caráter, das aspirações e do grau de harmonia ou conformidade do indivíduo com a lei divina e universal.
6. Segue-se que a experiência e os conhecimentos adquiridos desde esta vida se tornam as fundações sobre as quais começa a vida nova.
7. Tendo em vista que a crença, sob certos aspectos, é a lei do ser humano na vida presente, e tendo em vista que o que se chama a morte não é em realidade senão o nascimento numa outra condição de existência, que conserva todas as vantagens ganhas na experiência desta vida, pode-se disto inferir que o crescimento, o desenvolvimento, a expansão ou a progressão são o destino infinito do ser humano.
8. Que o mundo espiritual não está longe de nós, mas que está perto, que nos cerca, ou que está misturado ao nosso presente estado de existência; e, conseqüentemente, que estamos constantemente sob a vigilância dos seres espirituais.
9. Que, uma vez que os indivíduos passam constantemente da vida terrestre à vida espiritual, em todos os graus de desenvolvimento intelectual e moral, o estado espiritual compreende todos os graus de caracteres, do mais baixo ao mais elevado.
10. Que, uma vez que o céu e o inferno, ou a felicidade e a infelicidade, dependem antes dos sentimentos íntimos do que das circunstâncias exteriores, há tantos graus para cada um quanto há de nuançasde caracteres, cada indivíduo gravitando em seu próprio lugar por uma lei natural de afinidade. Podem ser divididos em sete graus gerais ou esferas; mas estes devem compreender as variedades indefinidas, ou uma "infinidade de moradas" correspondendo aos caracteres diversos dos indivíduos, cada ser gozando tanto de felicidade quanto seu caráter lhe permite dela ter.
11. Que as comunicações do mundo dos Espíritos, que elas sejam recebidas por impressão mental, por inspiração, ou de toda outra maneira, não são necessariamente, as verdades infalíveis, mas que, ao contrário, elas se ressentem, inevitavelmente, das imperfeições da inteligência da qual elas emanam e do caminho por onde elas vêm; e que, além disso, elas são suscetíveis de receber uma falsa interpretação daqueles a quem são dirigidas.
12. Segue-se que nenhuma comunicação inspirada, no tempo presente ou no passado (quaisquer que sejam as pretensões que podem ou puderam ser postas antes como sua fonte), não tem nenhuma autoridade mais extensa do que a de representar a verdade à consciência individual, esta última sendo o padrão final ao qual se devem reportar para o julgamento de todos os ensinamentos inspirados ou espirituais.
13. Que a inspiração, ou a afluência das idéias e das sugestões vindas do mundo espiritual, não é um milagre dos tempos passados, mas um fato perpétuo, o método constante da economia divina para a elevação da raça humana.
14. Que todos os seres angélicos ou demoníacos que se manifestaram ou que se misturaram aos negócios dos homens no passado, eram simplesmente os Espíritos humanos desencarnados, em diferentes graus de progressão.
15. Que todos os milagres autênticos (assim chamados) dos tempos passados, tais como a ressurreição daqueles que estavam mortos em aparência, a cura das doenças pela imposição das mãos ou outros meios também simples, o contato inofensivo com os venenos, o movimento de objetos materiais sem concurso visível, etc, etc, foram produzidos em harmonia com as leis universais, e, conseqüentemente, podem se repetir em todos os tempos, sob condições favoráveis.
16. Que as causas de todo fenômeno, as fontes da vida, da inteligência e do amor, devem se procurar no domínio interior e espiritual, e não no domínio exterior e material.
17. Que o encadeamento das causas tende inevitavelmente a remontare a avançarem direção a um Espírito infinito, que é não só um princípio formador (a sabedoria), mas uma fonte de afeto (o amor) sustentando assim a dupla relação da parentela do pai e da mãe, de todas as inteligências finitas que, partindo, são unidas por laços filiais.
18. Que o homem, a título de filho desse pai infinito, é sua mais alta representação sobre esta esfera de seres, o homem perfeito sendo a personificação mais completa da "plenitude do Pai" que podemos contemplar, e que cada homem, em virtude dessa parentela, é, ou tem em suas dobras íntimas, um germe da divindade, uma porção incorruptível da essência divina que o leva constantemente ao bem, e que, com o tempo, suplantará todas as imperfeições inerentes à condição rudimentar ou terrestre, e triunfará de todo o mal.
19. Que o rnal é a falta mais ou menos grande de harmonia com esse princípio íntimo ou divino; e, portanto, quer se chame Cristianismo, Espiritualismo, Religião, Filosofia, quer se reconheça o "Santo Espírito", a Bíblia, ou a inspiração espiritual e celeste, tudo o que ajuda o homem a submeter à sua natureza interna o que há de mais exterior nele, e a torná-lo harmonioso com ela, é um meio de triunfar do mal.
Eis, pois, a base da crença dos espíritas americanos; se isso não é da totalidade, é ao menos a da maioria. Essa crença não é mais o resultado de um sistema preconcebido nesse país do que o Espiritismo na Europa; ninguém a imaginou; viu-se, observou-se e disto se tiraram conclusões. Nesse mundo não mais do que aqui, não se partiu da hipótese dos Espíritos para explicar os fenômenos; mas, dos fenômenos como efeito, chegou-se pela observação aos Espíritos como causa. Aí está uma circunstância capital, da qual os detratores se obstinam em não levar em conta. Porque eles chegam, com o pensamento, o próprio desejo de não encontrar os Espíritos, pensam que os Espíritas deveram tomar seu ponto de partida na idéia preconcebida dos Espíritos, e que a imaginação faz vê-los por toda a parte. Como se faz, então, que tantas pessoas que neles não crêem se renderam à evidência? Há delas milhares de exemplos, na América, como aqui. Muitos, ao contrário, passaram pela hipótese que o Sr. Chivillard acreditou ter inventado, e a isto não renunciaram senão depois de ter-lhe reconhecido a impossibilidade para tudo explicar. Ainda uma vez, não se chegou à afirmação dos Espíritos senão depois de ter tentado todas as outras soluções.
Já se pôde notar as relações e as diferenças que existem entre as duas escolas, e para aqueles que não se pagam com palavras, mas que vão ao fundo das idéias, a diferença se reduz a muito pouca coisa. Essas duas escolas não tendo se copiado, essa coincidência é um fato muito notável. Assim, eis dos dois lados do Atlântico, milhões de pessoas que observam um fenômeno, e que chegam ao mesmo resultado. É verdade que o Sr, Chevillard não havia ainda passado por lá para opor o seu veto e dizer a esses milhões de indivíduos, entre os quais há os de bom nome que não passam por tolos: "Estais enganados; só eu possuo a chave desses estranhos fenômenos, e eu vou deles dar ao mundo a solução definitiva."
Para tornar a comparação mais fácil, vamos tomar a profissão de fé americana, artigo por artigo, e pôr em paralelo o que disse, sobre cada uma das proposições que ali são formuladas, a doutrina de O Livro dos Espíritos, publicada em 1857, e que além disso está desenvolvida nas outras obras fundamentais.
Disso se encontrará um resumo mais completo no capítulo II de O que é o Espiritismo?
1. O homem possui uma alma ou Espírito, princípio inteligente, em que residem o pensamento, a vontade, o senso moral, e cujo corpo não é senão o envoltório material. O Espírito é o ser principal, preexistente e sobrevivente ao corpo, que não é senão um acessório temporário.
O Espírito, seja durante a vida carnal, seja depois de tê-la deixado, é revestido de um corpo fluídico ou perispírito, que reproduz a forma do corpo material.
2. O Espírito é imortal; só o corpo é perecível.
3. Os Espíritos, libertos do corpo carnal, constituem o mundo invisível ou espiritual, que nos cerca e no meio do qual vivemos.
As transformações fluídicas produzem imagens e objetos tão reais para os Espíritos, que são eles mesmos fluídicos, quanto o são as imagens e os objetos terrestres para os homens, que são materiais. Tudo é relativo em cada um desses mundos. (Ver a Gênese segundo o Espiritismo, capítulo dos fluídos e das criações fluídicas.)
4. A morte do corpo nada muda a natureza do Espírito, que conserva as aptidões intelectuais e morais adquiridas durante a vida terrestre.
5. O Espírito leva em si mesmo os elementos de sua felicidade ou de sua infelicidade; ele é feliz ou infeliz em razão do grau de sua depuração moral; ele sofre com as suas próprias imperfeições das quais sofre as conseqüências naturais, sem que a punição seja o fato de uma condenação especial e individual.
A infelicidade do homem sobre a Terra provém da inobservância das leis divinas; quando ele conformar os seusatos e as suas instituições sociais a essa leis, será também feliz quanto o comporta sua natureza corpórea.
6. Nada do que o homem adquire durante a vida terrestre, em conhecimentos e em perfeições morais para ele está perdido; ele é na vida futura, o que se fez na vida presente.
7. O progresso é a lei universal; em virtude desta lei, o Espírito progride indefinidamente.
8. Os Espíritos estão em nosso meio; eles nos cercam, nos vêm, nos ouvem e se misturam, numa certa medida, às ações dos homens.
9. Os Espíritos não sendo outros senão as almas dos homens, encontram-se entre eles todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de perversidade que existem sobre a Terra.
10. O céu e o inferno, segundo a crença vulgar, são os lugares circunscritos de recompensas e de punições. Segundo o Espiritismo, os Espíritos trazem em si mesmo os elementos de sua felicidade ou de seus sofrimentos, são felizes ou infelizes portoda a parte onde se encontrem; as palavras céu e inferno não são senão figuras que caracterizam um estado de felicidade ou de infelicidade.
Há, por assim dizer, tantos graus entre os Espíritos quanto há de nuanças nas aptidões intelectuais e morais; no entanto, considerando-se os caracteres mais marcantes, podem ser agrupados em nove classes ou categorias principais, podendo se subdividirem ao infinito, sem que essa classificação tenha nada de absoluta. (O Livro dos Espíritos; liv. II, cap. I, n° 100, escala espírita.)
À medida que os Espíritos avançam na perfeição, eles habitam mundos cada vez mais avançados fisicamente e moralmente. Sem dúvida, foi o que Jesus quis falar com estas palavras: "Há várias moradas na casa de meu pai." (Ver O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III.)
11. Os Espíritos podem se manifestar aos homens de diversas maneiras: pela inspiração, pela palavra, pela visão, pela escrita, etc.
É um erro crer que os Espíritos têm a ciência infusa; seu saber, no espaço como sobre aTerra, é subordinado ao seu grau de adiantamento, e há os que, sobre certas coisas, delas sabem menos do que os homens. Suas comunicações estão em relação com os seus conhecimentos, e, por isto mesmo, não poderiam ser infalíveis. O pensamento do Espírito pode, além disso, ser alterado pelo meio que ele atravessa para se manifestar.
Àqueles que perguntam para que servem as comunicações dos Espíritos, do momento em que não sabem mais do que os homens, responde-se que eles servem primeiro para provar que os Espíritos existem, e, conseqüentemente, a imortalidade da alma; em segundo lugar, a nos ensinar onde estão, o que são, o que fazem, e em que condições se é feliz ou infeliz na vida futura; em terceiro lugar, a destruir os preconceitos vulgares sobre a natureza dos Espíritos e o estado das almas depois da morte, todas as coisas que não seriam sabidas sem as comunicações do mundo invisível.
12. As comunicações dos Espíritos são opiniões pessoais que não devem ser aceitas cegamente. O homem não deve, em nenhuma circunstância, fazer abnegação de seu julgamento e de seu livre arbítrio. Seria da prova de ignorância e de leviandade aceitar como verdades absolutas tudo o que vem dos Espíritos; eles dizem o que sabem; cabe a nós submeter seus ensinos ao controle da lógica e da razão.
13. As manifestações sendo a conseqüência do contato incessante dos Espíritos e dos homens, elas se deram em todos os tempos; elas estão na ordem das leis da Natureza, e não têm nada de miraculosas, qualquer que seja a forma sob a qual se apresentem. Essas manifestações pondo em relação o mundo material e o mundo espiritual, tendem à elevação do homem, provando-lhe que a Terra não é, para ele, nem o começo, nem o fim de todas as coisas, e que há outros destinos.
14. Os seres designados sob o nome de anjos ou de demônios não são criações especiais, distintas da Humanidade; os anjos são os Espíritos saídos da Humanidade e que chegaram à perfeição; os demônios são os Espíritos ainda imperfeitos, mas que se melhorarão.
Seria contrário à justiça e à bondade de Deus, ter criado seres perpetuamente votados ao mal, incapazes de retornarão bem, e outros, privilegiados, isentos de todo trabalho para chegar à perfeição e à felicidade.
Segundo o Espiritismo, Deus não tem favores nem privilégios para nenhuma de suas criaturas; todos os Espíritos têm o mesmo ponto de partida e o mesmo caminho a percorrer para chegar, por seu trabalho, à perfeição e à felicidade. Uns chegaram: são os anjos ou puros Espíritos; os outros estão ainda atrasados: são os Espíritos imperfeitos. (Ver A Gênese, capítulos dos Anjos e dos Demônios.)
15. O Espiritismo não admite os milagres, no sentido teológico da palavra, tendo em vista que, em sua opinião, nada se realiza fora das leis da Natureza. Certos fatos, em os supondo autênticos, não foram reputados miraculosos senão porque se lhes ignoravam as causas naturais. O caráter do milagre é ser excepcional e insólito; quando um fato se reproduz espontaneamente ou facultativamente, é que está submetido a uma lei, e desde então isso não é mais um milagre. Os fenômenos da dupla vista, das aparições, de presciência, de cura por imposição das mãos, e todos os efeitos designados sob o nome de manifestações físicas estão neste caso. (Ver, para o desenvolvimento completo desta questão, a segunda parte de A Gênese, os Milagres e as predições segundo o Espiritismo.)
16. Todas as faculdades intelectuais e morais têm sua fonte no princípio espiritual, e não no princípio material.
17. O Espírito do homem, em se depurando, tende a se aproximar da divindade, princípio e fim de todas as coisas.
18. A alma humana, emanação divina, leva nela o germe ou princípio do bem e do mal que é seu objetivo final, e deve fazê-la triunfar das imperfeições inerentes ao seu estado de inferioridade sobre a Terra.
19. Tudo o que tende a elevar o homem, a libertar sua alma do constrangimento da matéria, que isso seja sob forma filosófica ou religiosa, é um elemento de progresso que o aproxima do bem, ajudando-o a triunfar de seus maus instintos.
Todas as religiões conduzem a esse objetivo, por meios mais ou menos eficazes e racionais, segundo o grau de adiantamento dos homens ao uso das quais elas foram feitas.
Em que o Espiritismo americano difere, pois, do Espiritismo europeu? Seria porque um se chama Espiritualismo e o outro Espiritismo? Pueril questão de palavras sobre a qual seria supérfluo insistir. Dos dois lados se vê a coisa de um ponto muito elevado para se prendera uma semelhante futilidade. Podem ser diferentes ainda sobre algum ponto de forma e de detalhes, tudo também insignificantes, e que dizem mais respeito aos costumes e aos usos de cada país do que ao fundo da doutrina. O essencial é que haja concordância sobre os pontos fundamentais, é o que ressalta com evidência da comparação acima.
Ambos reconhecem o progresso indefinido da alma como a lei essencial do futuro; ambos admitem a pluralidade das existências sucessivas em mundos mais ou menos avançados; a única diferença consiste em que o Espiritismo europeu admite essa pluralidade de existências sobre a Terra até que o Espírito tenha adquirido ograu de adiantamento intelectual e moral que comporte este globo, depois do que ele o deixa por outros mundos, onde adquire novas qualidades e novos conhecimentos. De acordo sobre a idéia principal' eles não diferem, pois, senão sobre um dos modos de aplicação. É que isso pode ser lá uma causa de antagonismo entre pessoas que perseguem um grande objetivo humanitário?
De resto, o princípio da reencamação sobre a Terra não é particular ao Espiritismo europeu; era um ponto fundamental da doutrinadruídica; em nossos dias, foi proclamado antes do Espiritismo por ilustres filósofos, tais como Dupontde Nemours, Charles Fourier, Jean Reynaud, etc. Far-se-ia uma lista interminável e escritores de todas as nações, poetas, romancistas e outros que o afirmaram em suas obras; nos Estados Unidos citaremos Benjamin Franklin, e a Sra. Beecher Stowe, autora de A cabana do pai Tomás.
Dele não somos, pois, nem o criador, nem o inventor. Hoje ele tende, a tomar lugar na filosofia moderna, fora do Espiritismo, como única solução possível e racional de uma multidão de problemas psicológicos e morais até hoje inexplicáveis. Não é aqui o lugar de discutir esta questão, para cujo desenvolvimento remetemos à introdução de O Livro dos Espíritos, e ao capítulo IVde O Evangelho segundo o Espiritismo. De duas coisas uma: esse princípio é verdadeiro ou não o é; se é verdadeiro, é uma lei, e como toda lei da Natureza, não são as opiniões contrárias de alguns homens que o impedirão de ser uma verdade e de'' ser aceito.
Já explicamos muitas vezes as causas que se opuseram à sua introdução no Espiritismo americano; essas causas desaparecem cada dia, e é do nosso conhecimento que ele já encontra numerosas simpatias nesse país. De resto, o programa acima não faz parte dele; se não é ali proclamado, não é ali contestado, pode-se mesmo dizer que ressalta implicitamente como conseqüência forçada, de certas afirmações.
Em suma, como se vê, a maior barreira que separa os espíritas dos dois continentes, é o Oceano, através do qual podem perfeitamente se dara mão.
O que faltou aos Estados Unidos foi um centro de ação para coordenar os princípios; não existe ali, propriamente falando, corpo metódico de doutrina; encontra-se, como se pôde disto convencer, idéias muito justas e de uma alta importância, mas sem ligação. Foi a opinião de todos os Americanos que tivemos ocasião de ver e é confirmada por um relatório feito em uma das convenções realiza em Cleveland, em 1867, e do qual extraímos as passagens seguintes:
"Na opinião de vossa comissão, o que se chama hoje o Espiritualismo é um caos onde a verdade mais pura é misturada sem cessaraos erros mais grosseiros. Uma das coisas que servirão mais ao adiantamento da filosofia nova será o hábito de empregar bons métodos de observação. Recomendamos aos nossos irmãos e às nossas irmãs uma atenção levada ao escrúpulo em toda essa parte do Espiritismo. Nós os convidamos também a desconfiarem das aparências e a não tomarem sempre por um estado extático, ou por uma agitação vinda do mundo espiritual, as disposições da alma que podem tirar sua origem da desordem dos órgãos, e, em particular, das doenças dos nervos ou da loucura, ou de toda outra excitação completamente independente da ação dos Espíritos.
"Cada um dos membros da comissão já tinha uma experiência muito grande desses fenômenos; há dez ou quinze anos, todos fomos testemunhas de fatos cuja origem extraterrestre não podia ser posta em dúvida, e que se impunha à razão. Mas estávamos todos igualmente convencidos de que uma grande parte do que se dá à multidão como manifestações espiritualistas, são muito simplesmente passes de mágica mais ou menos jeitosamente executados por trapaceiros que disso se servem para explorar a credulidade pública.
"As observações que acabamos de fazer a respeito dos malabarismos qualificados de manifestações, se aplicam inteiramente a todos os supostos médiuns que se recusam de fazer suas experiências em outro lugar do que um quarto escuro: os Davenport, Fays, Eddies, Ferrises, Church, senhorita Vanwie e outros, que pretendem fazer coisas materialmente impossíveis, e se dão como os instrumentos dos Espíritos, sem trazer a menor prova em apoio de suas operações. Depois de uma investigação atenta da matéria, estamos na obrigação de declarar que a obscuridade não é uma condição indispensável à produção dos fenômenos; que ela é reclamada como tal somente pelos velhacos, e que ela não têm outra utilidade senão de ofereceras suas mentiras. Convidamos, em conseqüência, as pessoas que se ocupam de Espiritualismo, a renunciarem a evocar os Espíritos na obscuridade.
"Em criticando uma prática que pode ser substituída sem dificuldade por modos de experimentação infinitamente mais probantes, não entendemos inflingir uma censura aos médiuns que a usam de boa fé, mas denunciará opinião os charlatães que exploram uma coisa digna de todos os respeitos. Nós queremos defender os verdadeiros médiuns, e livrara nossa gloriosa causa dos impostores que a desonram.
"Cremos nas manifestações físicas, elas são indispensáveis ao progresso do Espiritualismo. São as provas simples e limpas que tocam, desde o início, aqueles a quem os preconceitos não cegam; elas são um ponto de partida para chegará inteligência das manifestações de uma ordem mais elevada, o caminho que conduziu a maioria dos espiritualistas americanos do ateísmo ou da dúvida, ao conhecimento da imortalidade da alma. (Extraído do New-York Herald, de 10 de setembro de 1867.)